A paquistanesa que não se calou
Mukhtar Mai, 28 anos, foi condenada por um crime que não cometeu, e pagou por isso ao ser estuprada coletivamente. Ao contrário da maioria das mulheres de seu país, que ao sofrerem essa violência cometem suicídio, ela resolveu falar. E assim deixou o mundo perplexo com seu ato de coragem e transformou o futuro de sua cidade
Violência
Em 22 de junho de 2002, Mukhtar Mai, pertencente à casta de camponeses Gujjar, no Paquistão, foi obrigada a pedir perdão por uma condenação feita pela tribo Mastoi, considerada superior a eles. O crime? O seu irmão Shakkur, de 12 anos, falou com Salma, uma mulher do clã Mastoi. Eles acusaram o garoto de ter ofendido Salma, que tem 27 anos, apenas por ter trocado algumas palavras... Após ser espancado pelo grupo, a polícia o prendeu - sob determinação da tribo. Então, a sua irmã foi escolhida pela família para pedir perdão aos Mastoi, por ser considerada uma mulher respeitável: ensina o Corão para as crianças, recebeu o divórcio do marido e não tem filhos. Ao chegar lá, porém, todos os homens estavam armados e sem nenhuma intenção de misericórdia. Eles a arrastaram até um estábulo e lá ela foi estuprada por quatro homens durante uma noite inteira.
O costume local
Mukhtar foi para o seu quarto aquele dia e ali permaneceu por semanas, pensando em suicídio. Depois de ter sido estuprada, o caminho que ela teria de seguir, segundo os costumes locais, seria cometer o suicídio. Só que as notícias que chegavam até ela eram mais revoltantes: seu irmão só foi solto após a sua família pagar fiança, e a tribo Mastoi ainda o ameaçava. Quando ela percebeu que o seu sofrimento tinha sido em vão, resolveu esquecer o suicídio, tão previsível.
A escolha pela vida
Mukhtar decidiu viver, para lutar por justiça e ajudar outras mulheres a terem uma vida mais digna. Apoiada pelos pais e fortalecida espiritualmente pelas lições do Alcorão, dizia: "Sou só a primeira gota d'água, mas a chuva virá. E muitas gotas de chuva acabam formando um grande rio."
Seu pai, ela, a mãe e quatro irmãos não sabiam ler, nem freqüentaram a escola. Porém, eram muçulmanos devotos, que rezavam cinco vezes ao dia. Mukhtar tinha uma mente privilegiada e conseguia memorizar trechos do Alcorão. Tranqüila, mansa no falar, essa mulher altiva de 1,70 metros de altura pensava, mantendo os profundos olhos negros voltados para baixo: "O Alcorão me protegerá."
A luta por Justiça
Chamada para depor na delegacia, ela foi induzida a deixar as suas impressões digitais em um papel em branco. Embora analfabeta, Mukhtar percebeu que ali seria colocado o depoimento que os policiais quisessem. E assim passou por vários depoimentos, sempre forçada pela polícia local a não dizer a verdade ao juiz. Mas ela conseguiu chegar até ele e falar tudo o que haviam feito, além de reconhecer os policiais que tentavam impedi-la de declarar a verdade. Após inúmeras audiências, o caso já havia repercutido em toda a imprensa.
A família
A família de Mukhtar Mai é da casta mais baixa dos gujar e vivia de escassos recursos dos campos de cana-de-açúcar e trigo. A casa era de barro e tinham somente poucas cabras e bois, uma vaca e um pedaço de terra. Não dispunham de luz elétrica, telefone, nem água corrente. Mukhtar casou-se aos 18 anos e não teve filhos. Um casamento arranjado. Ela não foi feliz. O divórcio era raro no Paquistão rural - a mulher era mal vista, mas os pais a apoiaram e em menos de um ano Mukhtar recebeu do marido o talaq (na lei islâmica, o repúdio do homem à mulher que a libertou oficialmente do casamento e a permitiu voltar para a casa da família em Mirvala.
O ensino que ela recebeu
Ghulam, pai de Mukhtar Mai, lhe ensinou a respeitar os mais velhos e a proibia de mentir. "Temos muito pouco, mas possuímos nossa honestidade", dizia à filha, o que fez com que ela desenvolvesse um forte senso de certo e errado.
A indenização
Por ordem do governo, a ministra federal para as mulheres, Attiva Inayatullah, deu-lhe um cheque de meio milhão de rupias, cerca de Us$ 8.200, (mais do que seu pai ganharia em décadas). Segundo a ministra, não era uma compensação, mas um pequeno símbolo de "nossa identificação" pelo sofrimento pelo qual Mukhtar passou. Mukhtar, que jamais havia visto um cheque, disse: "Não preciso de dinheiro. O que realmente preciso é de uma escola." Ela teve essa idéia ao perceber que a maioria de pessoas que com ela se solidarizavam eram educadas.
O dinheiro da indenização
Então, ela concordou em receber o cheque, desde que pudesse usar o dinheiro para a construção de uma escola para meninas. Determinada, comprou um terreno perto de casa e contratou trabalhadores para a construção de uma escola primária. Ela também ajudou, fazendo tijolos de barro e transportando para o local da obra. A Escola-Modelo para Meninas Mukhtar Mai tomou forma e abriu as portas em dezembro de 2002. O governo pavimentou a estrada e trouxe luz e telefone para Mirvala.
As alunas
Acompanhada de guarda-costas da polícia, foi de casa em casa pedir aos pais que enviassem as filhas para a nova escola. A tarefa não foi fácil, pois ouvia sempre a alegação: "Meninas não precisam aprender a ler"; ou: "Só os meninos precisam ser educados." Mukhtar se comprometeu, então, a mandar uma van para buscar cada menina.
A escola
A escola não tinha luxo. Em vez de cadeiras, as meninas se sentavam sobre sacos de aniagem. Mukhtar se sentava ao lado de algumas alunas, para também aprender a ler e escrever. Buscou mais recursos, vendeu seus brincos e uma vaca e quando a imprensa divulgou a história, chegaram muitas doações. Ela então contratou carpinteiros para fazer assentos e carteiras de madeira para as alunas. Foram instalados ventiladores no teto, tornando, assim, agradável o ambiente sufocante das aulas. Com saldo suficiente, abriu uma escola para meninos em Mirvala e outra para meninas numa aldeia próxima. E mais de 700 crianças de todas as castas (inclusive da casta mastoi) se misturavam livremente nas escolas.
Ajudando outras vítimas
A ação benemérita desta notável paquistanesa não parou por aí. Mulheres, algumas estupradas, outras mutiladas, outras espancadas, outras com cicatrizes horríveis no rosto - vítimas de ataques de ácido, ou sem nariz ou orelhas, punição para supostas adúlteras, procuravam Mukhtar. Foi então criada, ao lado da primeira escola, o Centro Mukhtar Mai de Assistência de Crise da Mulher, para o qual chegava, em média, diariamente, cinco vítimas, em busca de auxílio. Ninguém deixava de ser atendida.
O livro
Depois da repercussão que o caso teve na imprensa mundial, a jornalista Marie-Theres Cunny e Mukhtar Mai lançaram um livro, Desonrada, para contar essa história. O livro já foi traduzido para vários idiomas e lançado em muitos países, inclusive o Brasil.
Lançando sementes
Nós podemos ver nessa história é que, conforme escreveu o apóstolo Paulo, "Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes."
Podemos aprender com Mukhtar Mai que qualquer uma pessoa, mesmo que seja analfabeta pode fazer a diferença no mundo plantando o Bem e denunciando a injustiça, e isso deve começar onde estivermos.
"Sinto-me como uma pequena planta que começa a crescer. Ainda precisamos ver os frutos. Mas, na vila onde moro, histórias como a minha não acontecem mais".
Mukhtar Mai
Ordem de Melquisedeque
Eu me inclino diante do exemplo dessa mulher simples, a quem honro diante de todos porque, para mim, ela é serva do Deus Altíssimo, segundo a Ordem de Melquisedeque.
Bento Souto
Um comentário:
Coitada dessa nossa, ter nascido em um pais " HORROROZO" COMO ESSE.
descupe pela minha revolta. Mas se inferno existe, tomara q esses estupradores de merda vão todos para la.
NÃO É PORQUE É CULTURA QUE TA CORRETA., Q PORRA de CULTURA É ESSA QUE ENSINA, A MATA, SURA, E ESTUPRA.,
Quem são eles para acharem que são melhores do que outros (e que se lasque esse negocio de clã).
QUERIA SABER QUEM INVENTOU ESSA "CULTURAZINHA DE MERDA",APOSTO Q NÃO FOI NINHUEM QUE TENHA SIDO VIOLENTADO.
E tenho certeza que todos os país,do mundo, tem que se juntar contra isso. NÃO é so porque não é aqui, que tem que se fechar os olhos e cruzar as mãos. " quem pensar assim eu tenho pena somente", porque dessas pessoas ingnorantes ( pode se dar o perdão)
Mas DEUS que me livre, posse essa moça, ( não por ela, e sim pela violencia que sofreu).
NÃO PERDOARIA, SEUS AGRESSORES. QUE FOSSEM PEDIR PERDÃO PARA DEUS, PORQUE O MEU NÃO TERIA NÃO.
mandava eles descerem, para o inferno e ABRAÇAR O CAPETA.
MAS AQUI SE FAZ AQUI SE PAGA.
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