quarta-feira, maio 06, 2009

E O LIVRE-ARBÍTRIO?

E o Livre-Arbítrio?

Ah, quanto mais eu leio, mas eu acho que esse é um termo vazio. Nem sabemos o que estamos dizendo ao afirmar que o Homem possui Livre-Arbítrio.

Qual desses homens possui Livre-Arbítrio?

1) O Homem (Adão e Eva) antes de pecar.
2) O Homem caído e sem Cristo.
3) O Homem salvo por Jesus Cristo, mas ainda vivendo nesse mundo.
4) O Homem glorificado nos céus.

O Livre Arbítrio desses 4 Homens acima descritos são iguais?

Depois de ler The Bondage of the Will (Servum Arbitrium), escrito por Lutero (você encontra aí na Christian Book Distribuitors, www.christianbook.com - ISBN: 0800753429), em resposta ao que escreveu Erasmo de Roterdã (De Libero Arbitrium), O Livre-Arbítrio, eu não posso mais dizer que esses 4 Homens possuem o mesmo Livre-Arbítrio.

Todavia, somente para demonstrar que Livre-Arbítrio é um termo vazio, vamos olhar uma definição do que é Livre- Arbítrio.

Um amigo escreveu:
"Livre Arbítrio - liberdade de auto determinação e ação independente de causas externas"

Eu concordo com ela. Acho que a definição é precisa. No entanto, tenho minhas dúvidas de que vejamos o mesmo sentido nessa descrição. Note que a definição diz "liberdade de auto (self, certo?) determinação (escolha, concorda?) e ação (não vou nem entrar na questão de Paulo dizer que escolhe o Certo e faz o Errado, fica pra outra ocasião!) independente (aparte, isolado, correto?) de causas externas (na intimidade do ser, apenas com as coisas do ser, certo?).

Bem, vamos testar se alguma escolha pode ser feita nessas condições. Onde vamos tomar o café da manhã? Na Waffle House ou na IHOP (International House of Pancake)? De que você gosta mais Waffle ou Panqueca? Você deixa para que eu decida? Você gosta mais de panqueca, e eu de waffle, mas você decide ir comer waffle, pois o que importa é a minha companhia? Você gosta mais de estar comigo do que comer panqueca? Infelizmente, a "causa externa" está presente em todos esses processos de escolha. Portanto, o arbítrio não é livre de "causas externas".

Vamos ao cinema. Não, é melhor você ir sozinho para eu não atrapalhar sua escolha. Que filme você decide assistir entre os 12 que estão passando? Sua escolha foi por causa do ator ou atriz? Foi por causa do horário em que ele vai começar? Foi por causa da trama? Foi por que alguém disse que o filme era bom? Onde você vai sentar ao entrar na sala de exibições? Bem no centro, para poder ver melhor a tela? Bem ao fundo, ou na ponta...? Por que você escolhe o lugar onde senta? Não tem jeito, em todas essas escolhas há "causas externas".

Bem, vamos tentar fazer uma escolha sem "causas externas". Você escolheu um modelo de camisa para comprar? E agora, vai ser a azul ou a marrom? Nenhuma das duas, vai ser uma outra cor porque ela é a sua cor favorita? Sinto muito, lá vem "causas externas" no exercício do seu arbítrio... Ou seja, qualquer escolha acontece por causa de inclinações ou preferências, se "preferir" chamar assim.

Livre arbítrio, no processo de escolha de comida, por exemplo,é quando você vai sozinho para um restaurante, na Malásia, e o garçom te dá o menu, e você nem sabe ler o que tá escrito. Você vai escolher um prato sem saber se é líquido ou sólido, se é pastoso ou seco, se é vegetal ou animal, se é cru ou cozido ou se é caro ou barato. Isso é o exercício do livre-arbítrio no processo de escolha de um prato. Ou seja, nenhuma informação (causas externas, lembra?).É como dizer escolha A ou B (se bem que você pode escolher A porque seu nome começa com A...causa externa!). Escolha 1 ou 2! Esquerdo ou direito. Etc.

Nesse ponto, talvez você pense como eu e diga: "peraí, e se for o contrário? E se Livre-arbítrio for um processo de escolha onde se sabe tudo sobre a escolha?" Ou seja, e se Livre-arbítrio for um processo de escolha onde se goste de duas coisas de igual forma? Se não houver preferência (ou inclinação, como eu prefiro chamar) por uma, apenas? A definição acima estaria errada, mas alguém poderia ter a mesma inclinação para os dois lados e escolher um, não seria isso Livre-arbítrio? Afinal, daqui a pouco vamos ter que lidar com o que levou Adão a escolher pecar!

Infelizmente, isso também não funciona. Vamos imaginar que você goste, igualmente, do azul e do marrom. Que camisa você irá comprar? Você só pode levar uma. Qual será? Azul ou marrom? Não adianta, se o gosto for igual, você irá ficar olhando para as camisas pra sempre, sem poder fazer uma escolha. Pois, se escolher uma é porque gostava mais daquela cor do que a outra. Percebe que não há saída? A escolha parece que nunca se livra de "causas externas".

Então, em minha opinião, Livre-Arbítrio é um termo vazio.

Peraí, Bento. E a escolha de Adão? Não foi exercício de Livre- Arbítrio? A de Adão foi livre de "causas externas"? Não estava Eva defronte dele comendo o fruto da árvore que Deus havia dito que se comesse morreria? Isso não é uma boa "causa externa"? E a de Eva, não foi uma escolha livre de "causa externas"? Não havia um outro ser dizendo que se ela comesse o fruto, ela seria igual a Deus? Isso não é uma "causa externa"? Se é assim, então qual foi a "causa externa" que levou Lúcifer a pecar? De onde veio a "inclinação para o mal" no ser dele?

Nesse ponto, acaba a razão humana. Chegamos ao limite da razão. Não há mais terreno para a Razão. Daqui pra frente só se vai pela Fé. É pela Fé que cremos que "Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta". Qualquer dúvida quanto a isso, eu sugiro que você leia de nova a epístola de Paulo aos Romanos. Lá, ele começa a elaborar o problema da Queda que atingiu toda a raça humana. Depois, ele segue com a Redenção através de Jesus Cristo... até que lá pelo final do capítulo 8 ele já está falando daqueles a quem Deus elegeu. E ele segue mostrando até onde a razão pode ir... Deus escolheu Jacó e não Esaú, antes que tivessem nascido ou feito mal ou bem, afim de que o propósito da eleição permanecesse... e segue até que pergunta se não há injustiça em Deus escolher uns e outros não. Note qual é a resposta. Doxologia. Louvor. Não há o que dizer. A razão humana não consegue explicar isso.

Falar de Livre-Arbítrio num ambiente ocidental é muito gostoso. Meu amigo, George Guilherme, repórter sênior da Globo foi para uns países asiáticos fazer uma reportagem sobre um esporte chamado Sepaktracal (parece nome de remédio, não é?). Num belo dia de domingo, na Malásia, ele acordou e quis ir para uma igreja. Perguntou na recepção do hotel e ninguém sabia o que era igreja. Perguntou para várias pessoas até se dar conta de que talvez ele fosse o único cristão naquela cidade. Se lermos Atos 16, veremos o motivo de George não encontrar cristãos ali. Deus tinha outros planos. Nós não sabemos explicar, apenas cremos e louvamos.

Ou você pode explicar por que eu vivi uma vida saudável (até hoje, graças a Deus) e minha prima Bernadete tem a mente de criança de dois dias de nascida? Nunca disse uma palavra. Nunca disse onde é que estava doendo. Nunca abraçou alguém e disse "eu te amo". Nunca saiu do lugar sem que alguém a carregasse. Nunca comeu nada que alguém não houvesse posto na boca dela. Nunca deu um passo na vida. Você pode explicar por que ela é assim e o irmão e a irmã dela não são? São 45 anos de uma vida dessa maneira.

Acho que nem você e nem ninguém pode. Deus disse que é Ele quem faz pessoas como Bernadete ou com qualquer outra enfermidade de nascimento (Ex. 4:11). Eu não entendo, será que por isso eu devo deixar de louvá-lo? Ou eu admito que a Razão Humana possui limites? Essa discussão toda sobre Livre-Arbítrio, Eleição, Predestinação, etc., é tentativa de explicar o inexplicável. Há muito exagero e gente, como dizia Calvino, "que entra nos aposentos íntimos de Deus sem a reverência devida". Eu não quero ser um deles.

Sou apenas alguém que tem convicção de que não sou melhor do que ninguém. Sou amigo e discuto a vaga de "principal dos pecadores". Por isso, termino com as palavras daquele personagem de Ariano Suassuna: "eu não sei não, só sei que foi assim".

Abraço,

Bento Souto
25 de Julho de 2004.

Nenhum comentário: