Minha experiência no Grameen deu-me uma fé inabalável na criatividade dos seres humanos. Ela me feZ concluir que eles não nascem para padecer com a fome e a miséria. Se estas os fazem sofrer em nossos dias, como aconteceu no passado, é porque desviamos os olhos do problema.
Estou profundamente convencido de que poderemos livrar o mundo da pobreza se estivermos determinados a isso. Essa conclusão não é fruto de uma esperança crédula, mas o resultado concreto da experiência do adquirimos em nossa prática do microcrédito.
O crédito, por si só, não poderia acabar com a situação de pobreza. Ele é apenas um dos meios que permitem sair da pobreza. Outras saídas podem ser abertas para facilitar a mudança. Mas para isso é necessário ver as pessoas de modo diferente e conceber um novo quadro para essa sociedade, coerente com essa nova visão.
O Grameen me ensinou duas coisas: em primeiro lugar, os conhecimentos que temos sobre os indíviduos e sobre as interações existentes entre eles são ainda muito imperfeitos; por outro lado, cada um indíviduo é importante. Toda pessoa tem um enorme potencial e pode influenciar a vida das outras no seio das comunidades e das nações durante sua existência, mas também além dela.
No fundo de cada um de nós existem muito mais possibilidades do que aquelas que tivemos ocasião de explorar até o presente. Se não criamos o ambiente favorável ao desenvolvimento do nosso potencial, nunca saberemos o que temos dentro de nós.
Cabe a nós decidir que rumo tomaremos. Somos os pilotos e os navegadores de nosso planeta.Se levarmos a sério o nosso papel, o destino que nos aguarda será necessariamente o que previmos.
Resolvi contar essa história por esperar de meus leitores uma reflexão sobre o que ela pode representar para eles. Se vocês julgarem a experiência do Grameen possível e convincente, eu gostaria de convidá-los a se juntar aos que acreditam na possibilidade de criar um mundo sem pobreza e que decidiram trabalhar nesse sentido. Quer sejam vocês revolucionários, liberais, conservadores, jovens ou velhos, podemos unir forças para resolver esse problema.
Pensem nisso.
Muhammad Yunus
Banco Grameen, 10 de Julho de 1997.
(O Banqueiro dos Pobres - Editora Ática, 2000 - Prefácio)
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O Comitê Norueguês do Nobel decidiu conceder o Prémio Nobel da Paz de 2006, dividido em duas partes iguais, Muhammad Yunus e ao Grameen Bank por seus esforços para criar desenvolvimento económico e social a partir de baixo. Paz duradoura não pode ser alcançada a menos que grandes grupos populacionais encontrem maneiras para sair da pobreza. Micro-crédito é um desses meios. Desenvolvimento a partir de baixo também serve para fazer avançar a democracia e os direitos humanos.(Press Release do Nobel da Paz - 2006)
A constatação do Comitê do Nobel de que o que Yunus fez foi mais do que revolucionar a economia e as finanças dos países e das pessoas. O melhor programa anti-terror ainda é o que promove o resgate das pessoas oferecendo-as condições de melhorar a vida delas e dos filhos. Respeito aos direitos humanos e avanço da democracia são apenas efeitos colaterais desse círculo virtuoso. Com certeza, essas idéias podem e estão mudando o mundo.
Melquisedeque saiu ao encontro de Abraão levando pão e vinho. Esses são os elementos que Yunus tem levado às pessoas: a possibilidade de se alimentar melhor e ter mais alegrias com a família e a comunidade.
No próximo post, veremos como o sonho de erradicar a pobreza do mundo começou.
Até lá!
Beijão
Bento Souto
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