terça-feira, abril 26, 2011

A PÁSCOA NO ASILO



Muitos dos personagens sobre os quais eu tenho escrito aqui aparecem nessa matéria. Claro, como eu disse no primeiro post, troquei os nomes deles para poder preservá-los.

Na semana que passou eu não pude ir lá. Estava convalescendo de uma Dengue. No entanto, meu coração se encheu de alegria ao ver o "JR" mandando ver no violão. Na semana anterior, eu havia perguntado a ele se estava tudo bem. Ele respondeu que faltava uma palheta para tocar. Consegui uma com meu sobrinho.

Como se pode fazer alguém feliz com tão pouco, com aquilo que estão ao nosso alcance.


Abcs Bento Souto

segunda-feira, abril 25, 2011

EU GOSTO É DE SATANÁS!






-- Eu gosto é de Satanás. Eu não gosto de Deus. Já estou condenado ao Inferno -- era isso que "Dario" bradava a plenos pulmões.

Me aproximei de "Dario", olhando nos olhos dele, buscando algum sinal de possessão demoníaca. Afinal, eu já conversara com ele algumas vezes e ele sempre se mostrara um sujeito muito afável, apesar de nem sempre conseguir dizer coisa com coisa. Enquanto orava, no Espírito, pedindo a Deus por discernimento, também chegou perto de mim uma Irmã e disse:

-- Ligue para isso não, Bento. Ele não sabe o que está dizendo. Isso ainda é crise de abstinência do alcóol. Há dois anos ele chegou aqui. Morava na rua e bebia mais de três litros de cachaça por dia. Doutor João, o médico do Asilo, nos disse que não cortássemos o alcóol de uma vez, pois isso poderia matá-lo. Nós dávamos um copo de cachaça por dia para ele. Mas ele esteve muito mal de saúde, no final do ano, e tivemos que cortar a cachaça por causa dos medicamentos. Por isso, quando está agoniado pela falta da cachaça, ele fala essas coisas. Mas Deus releva isso. "Dario" não sabe o que está dizendo.

Eu pensei comigo mesmo. Se nós, seres imperfeitos, somos capazes de perceber algumas loucuras e relevá-las, que dirá Deus?

Desde os dia em que uma moradora de rua disse o nome completo de um amigo meu, sem o conhecê-lo, e em Inglês perfeito, eu já vi muita loucura sendo tratada com exorcismo e possessos sendo tratados com Gardenal. Outro amigo, com muito mais experiência nessa área, me disse que, certa vez, olhou para um possesso com tanto amor, mas com tanto amor, que o demônio não resistiu e saiu sem que meu amigo dissesse uma palavra.

Após alguns minutos de carinho e cuidado, "Dario" voltou a ficar tranquilo e eu lembrei da recomendação do apóstolo Pedro.

"Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados" (1 Pedro 4:8).

E a vida no Asilo voltou ao normal. Sem a neurose e o espetáculo que afirmações como a que "Dario" fez provocaria em certos ambientes ditos "cristãos".

Dei graças a Deus por tudo que presenciei e, principalmente, por ver que "o Amor sempre vence".


Abcs Bento Souto

terça-feira, abril 19, 2011

O QUE É AQUILO?




"Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes em nenhum dos dias de sua vida: a caridade feita a teu pai não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados e, na justiça, será para tua edificação" Eclo 3,14:17


Abcs Bento Souto

segunda-feira, abril 18, 2011

O LAMENTO QUE MAIS OUÇO NO ASILO





De vez em quando eu ouço gemidos e lamentos abafados dos internos do Asilo. São dores físicas, emocionais e psiquícas que acometem alguns deles -- mulheres, principalmente, por serem mais sensíveis.

O que dizem esses sussurros? Com certeza, eu não sei. Mas, se tivesse que tentar adivinhar, eu diria que é mais ou menos isso, a seguir, que aquelas almas me falam, ainda que seja sem palavras:

"Eu os gerei. Por nove meses, carreguei-os em meu próprio ventre. Eles se alimentaram dos meus peitos e do que eu comprei e cozinhei para eles. Limpei cocô e xixi que eles faziam em qualquer lugar. Dei um duro danado para que eles pudessem ir para a escola e se formassem. Abri mão de minha carreira profissional para ficar em casa cuidando deles. Agora, em recompensa por todo meu esforço, eles me mandaram para cá. Alegam que eu agora incomodo. Eles já me incomodaram muito mais. Mas, por amá-los, tudo fiz e faria de novo.

Será que eles entendem o que estão fazendo comigo? Talvez não. Bom, quando eles ficarem velhos irão entender da maneira mais dura: quando os filhos deles os mandarem pra cá."



Abcs Bento Souto

domingo, abril 17, 2011

DOMINGO DE RAMOS





Hoje, há muitos cristãos nas ruas carregando ramos de palmeira para celebrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Só espero que não esqueçamos que os mesmos que saudaram Jesus com "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor", são os mesmos que, na sexta, disseram "Crucifica-o" e gritaram: "queremos Barrabás".


Abcs Bento Souto

sábado, abril 16, 2011

A VELHA CANTORA EVANGÉLICA 2





Depois da internação forçada, o dia seguinte da velha cantora evangélica me pareceu bem melhor.

Quando eu cheguei ao Asilo, no meio da manhã, a Irmã Fabíola estava fazendo curativos e cortando as unhas da velhinha. Com um sorriso no rosto, roupas limpas e uma aparência bem melhor, ela falava quase sem parar.

-- Eu sou missionária. Prego o Evangelho de Jesus nas igrejas -- dizia ela, entre outras coisas.

-- Como é o seu nome? -- perguntei.

Ela me olhou, sorrindo, mas sem entender o que eu havia perguntado. Então, eu percebi duas coisas. A primeira é que ela é mesmo evangélica. Pois, eu nunca vi gente para falar tanto como os evangélicos. Como falam. Quase não escutam. Quando a gente pensa que eles estão ouvindo o que a está gente dizendo, na verdade, não estão, mas preparando a o que vão dizer em seguida... rsrs

A segunda coisa foi que a velhinha tem dificuldades de audição. Sim, um dos sintomas de que pessoas idosas estão com dificuldade de audição é falar sem parar. Elas não dão chances para que os outros falem porque elas não escutam o que os outros dizem.

Me retirei para uma mesa distante onde outros velhinhos me aguardavam para o Dominó. De lá, fiquei olhando para o Evangelho que a Irmã Fabíola pregava para a velhinha: o do Amor sem palavras, que cuida, que ama, que faz o bem sem esperar nada em troca.

Absorto pelo Dominó, que atrai mais velhinhos a cada dia, não percebi a chegada da velha cantora evangélica ao grupo que estava comigo. Quando me dei conta, ela estava ao meu lado, olhando as minhas pedras.

-- A senhora joga Dominó? -- perguntei.

-- Jogo, sim -- disse ela.

Dei as minhas pedras para ela e pedi que ela assumisse o meu lugar. Pensei que iria ter que ajudá-la a reconhecer as pedras, pois muitos não enxergam o suficiente. Que nada. A velhinha não só enxerga como joga Dominó muito bem. Depois da terceira partida que ela ganhou, ninguém teve dúvidas de que temos uma nova parceira de Dominó.

A disputa só terminou quando o cheiro da comida venceu a vontade de jogar. Ela levantou-se e caminhou na direção do refeitório. Agora, sem mais greve de fome por ficar num lugar em que não queria. Mas, sorrindo, com um novo brilho nos olhos.

Acho que Rob Bell está certo no que diz: O Amor Vence!


Abcs Bento Souto

sexta-feira, abril 15, 2011

QUEM É CONTRA O ABORTO?





Até hoje eu só soube de um Cristão que era verdadeiramente contra o Aborto de qualquer criança: Madre Teresa de Calcutá.

Ela pedia para quem estivesse pensando em abortar, que desse a criança para ela, que ela criaria.

Os demais Cristãos não são contra.

Eles apenas falam que são.

Eu, inclusive.


Abcs Bento Souto

quinta-feira, abril 14, 2011

FALANDO NA IGREJA QUE EU AMO




Muitos me perguntam qual Igreja que estou frequentando. Esta minha fala do vídeo foi gravada lá, no domingo passado, 10/04/2011.

Nós somos 11 filhos (6 mulheres e 5 homens) que se reúnem uma vez por mês com nossos pais, cônjuges, filhos, sobrinhos, netos, genros, noras, tias, etc, para um almoço em que celebramos a união da nossa família e damos graças a Deus por todos.

Apesar de simples, tudo é muito bem planejado. Cada um dos filhos(as) traz um ingrediente de acordo com o planejamento feito e com as habilidades culinárias e financeiras que cada um possui. Há décadas que temos esse hábito.

Eu tenho insistido em chamar esse ajuntamento de Igreja, mesmo com a maioria sendo Católica e uma minoria sendo Evangélica.

Minha família é a minha Igreja mais querida, mais amada, a que eu mais gosto de congregar.

Outros grupos eu frequento ou até dirijo. Mas nenhum deles se assemelha a minha igreja-familia, familia-igreja.

Lá, a gente é tudo igual. Lá, nao há "ungidos" e não ungidos. Lá, não há sacerdotes e leigos e nem clero e laicato.

Lá, com o mais novo dos 11 irmaos com 31 anos, nao há mais hierarquia de autoridade, mas apenas submissão em amor. Eu me submeto a minha mãe e meu pai por causa do meu amor por eles e por causa da certeza do amor deles por mim. Não porque eles sejam a "autoridade" da igreja, mas porque eles são meus pais e me amam de verdade.

Lá, eles me ouvem porque crêem que em minha boca Deus põe palavras. Palavras de reconciliação; de amor fraternal; palavras que unem pais e filhos, irmãos e irmãs.

Lá, eles me ouvem, não porque eu seja o mais velho. Nada disso. Mas porque eles reconhecem a Palavra na minha boca; e sao abençoados pela Palavra tanto quanto eu sou.

Somos a melhor igreja que eu conheço. Assim, eu posso dizer que estou congregando na melhor congregaçao que eu conheço na face da Terra. Em nenhum outra eu me sinto tão bem e tão abençoado por Deus quanto nela.

Um detalhe, o tom de voz alto é porque eu estava falando sem microfone e tinha que vencer o barulho.


Abcs Bento Souto

quarta-feira, abril 13, 2011

A VELHA CANTORA EVANGÉLICA!




Ela chegou ao Asilo em um veículo do Corpo de Bombeiros. Agentes Sociais do Município e Representantes do Ministério Público acompanharam a internação dela. Uma internação difícil, diga-se de passagem, pois ela não queria ficar. Porém, como ela havia sido atropelada -- a perna dela tem um ferimento que precisa de curativos diários --, morava sozinha, sem ter quem cuidasse dela, estava suja e sem cuidados higiênicos, as autoridades decidiram que era melhor entregar a velha senhora aos cuidados das Irmãs devotas do Santo Católico, mas que cuidam dos velhinhos indefesos e incapazes.

-- Não, eu não quero ficar aqui. Quero ir pra casa. Eu sou uma cantora evangélica. Canto hinos e músicas para louvar a Deus -- dizia ela, tentando convencer as Irmãs a deixá-la ir.

-- Pronto, aqui está um violão. Cante. Louve a Deus conosco -- disse uma das várias Irmãs que davam as boas vindas e tentavam convencer a velha senhora a ficar.

Ela cantou. Ou, pelo menos, tentou. Nenhuma das músicas era conhecida. Talvez fossem muito antigas ou apenas canções de grupos restritos que nunca gravaram LP e/ou, muito menos, CDs. Porém, isso não foi empecilho para a Irmã que tentava acompanhá-la ao violão. Ao final, a velha cantora ouviu muitas palmas como incentivo. Os olhos dela brilharam. Mas ela ainda não queria ficar.

Dando atenção a três velhinhos que jogavam Dominó comigo, e a outros três que aprenderam a gostar da algazarra que eu faço enquanto jogo, eu pensava no que estaria se passando na mente daquela velha cantora evangélica.

À semelhança de vários pastores evangélicos idosos que vivem em Asilos como aquele, pois as Denominações e Igrejas a quem eles serviram os abandonaram a própria sorte, aquela velhinha agora passará a depender dos cuidados daqueles a quem por toda a vida foram tratados como ímpios e idólatras. Eles ficam parecendo Judeus sendo alvo do amor de Samaritanos.

Deve ser muito doloroso para eles perceberem que não há um único Asilo Evangélico na cidade, nem em todo o Estado -- gostaria de saber se há no Brasil, alguém sabe? Sei de alguns evangélicos que estão internos naquele Asilo que são arredios, maleducados e malagradecidos. Ser abandonado pelos próprios parentes não é fácil. Imagine ser abandonado por aqueles a quem se cria serem "os filhos de Deus"? Mas isso é assunto para um outro dia.

Na hora do almoço, ela veio para o Refeitório. Mais calma, de banho tomado e com roupas limpas, ela parecia outra. No entanto, me parece claro que a adaptação dela levará algum tempo. Ouvi-a pedir:

-- Jesus, me tira daqui.

Ao ouvir isso fiquei pensando. Para onde Jesus a levará? Onde ela será amada e cuidada como naquele Asilo? Só se for para algum lugar depois do túmulo. Pois, aqui na Terra, entre os Evangélicos, não conheço tal lugar.


Abcs Bento Souto

terça-feira, abril 12, 2011

"Seu Manoel", MERCÊS e JEAN-DOMINIQUE BAUBY





"Seu Manoel" se encontrava sentado/deitado numa cadeira, impossibilitado de se mover, a menos de dois metros da mesa em que eu jogava Dominó com outros internos. O "anjo de Deus" que cuida da cozinha se aproximou dele e disse:

-- "Seu Manoel", isso aqui ainda não é o almoço. É só um lanche -- e começou a colocar aquele líquido pastoso na boca do "Seu Manoel".

Achei ter visto um brilho de satisfação nos olhos de "Seu Manoel", após ele ter engolido a primeira colherada.

-- Olá, Bento, bom dia. Que bom que você veio -- disse a Irmã Fabíola, o "anjo de Deus" que é o "faz tudo" naquele Asilo, cerca de uma hora depois, ao passar por mim e se dirigir ao "Seu Manoel".

-- Olá, "Seu Manoel", como vai o senhor, hoje? -- perguntou a Irmã Fabíola, enquanto removia o mosquiteiro que o cobria e começava a examiná-lo.

Mais uma vez, eu pensei ter visto os olhos de "Seu Manoel" se iluminarem quando a Irmã Fabíola o tocou e começou a dizer-lhe palavras carinhosas e de estímulo. Não resisti e perguntei:

-- O que é que ele tem?

-- Ah, são tantas coisas...

-- Ele consegue falar?

-- Uma palavra aqui e acolá com extrema dificuldade.

O Dominó e os internos com os quais eu jogava demandavam a minha atenção. Porém, de soslaio, (sempre quis escrever essa palavra num texto.. rsrs) eu continuava prestando atenção no trabalho da Irmã Fabíola e esperando que algum sorriso brotasse da boca sem dentes de "Seu Manoel".

Uns três minutos depois, "Seu Manoel" pronunciou uma palavra. Por mais que eu tente, não consigo lembrar que palavra foi. Contudo, naquele instante uma possibilidade criou raízes em meu coração. Permita-me explicar.

Eu já exercito a comunicação de uma só palavra com pessoas portadoras de deficiências auditivas profundas. Há alguns meses, eu visitei Mercês, que faleceu na semana passada, aos 90 anos. Mercês ficou muito feliz com apenas duas palavras que eu pronunciei separadas uma da outra por minutos.

ELEGANTE. Era assim que eu lembrava de Mercês há quarenta e poucos anos, quando minha tia me levava ao escritório onde elas trabalhavam.

CHEIROSA. Por onde Mercês passava, o cheiro agradável dos perfumes que ela usava impregnavam o ambiente.

Mercês riu muito e discorreu durante vários minutos, com os olhos brilhando de alegria, sobre aquele tempo maravilhoso em que eu convivi com elas. A mente dela estava lúcida. As palavras fluíam claras e cheias de significado. Naquele instante, eu entendi que ela apenas não conseguia ouvir. Mas a mente continuava a funcionar perfeitamente.

Juntando a experiência de Mercês com a do jornalista francês Jean-Dominique Bauby, que sofreu um acidente vascular cerebral e ficou "preso no próprio corpo" (Locked-in Syndrom), completamente imobilizado (a exceção da sobrancelha esquerda, que ele passou a usar para se comunicar com o mundo), eu acalentei no meu coração a possibilidade de que a mente de "Seu Manoel" possa estar funcionando.

Sim, em ambientes como aquele Asilo, há muitas pessoas com a Mente em pior estado do que o Corpo. São aqueles para quem o Alzheimer já é uma realidade visível. Ou, outros, para quem o exagero no uso de substâncias entorpecentes (como o alcóol e as drogas) provocaram danos irreversíveis na Mente.

No entanto, aquela experiência com o "Seu Manoel" me fez considerar, seriamente, a possibilidade de que ali mesmo, perto de mim, possa haver pessoas com a Mente funcionando, mas sem poder responder com o Corpo.

Que Deus continue me ensinando aquilo que Salomão já dizia há milênios atrás:

"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração".


Abcs Bento Souto

sábado, abril 09, 2011

SUICIDAS E/OU ASSASSINOS?

Hoje, minha amiga Marinah, que vive na Holanda, falou que um outro jovem entrou num shopping de lá, matou seis pessoas e depois se matou.

Esse foi mais um daqueles que disseram: VOCÊS VÃO TER QUE CHORAR QUANDO EU MORRER!

Pessoalmente, sem entrar em análises psíquicas e de circunstâncias que levam as pessoas a cometer uma loucura dessas, quero dizer que não considero essas pessoas como SUICIDAS, mas como ASSASSINOS.

Há pessoas a quem a gente ama e a quem chamamos de AMIGOS. São poucas, mas há. Entre os meus AMIGOS há dois que se suicidaram. Os motivos que os levaram a cometer tal ato não me parecem suficientes para que se decida terminar uma vida. Porém, eles acharam que não valia mais a pena continuar vivendo daquela maneira e quiseram dar um fim a dor que sentiam. Só que eles causaram dor apenas a familiares e amigos que sentem a ausência deles.

Esses que matam outros e depois se matam causam dor aos familiares e amigos deles e acabam com a vida de gente que quer viver. Ou seja, eles tiram a vida de outros que não querem morrer e fazem isso apenas para causar dor.

Eles podem ser insanos --e eu acho que são mesmo!--, mas eles não são inocentes. Eles são ASSASSINOS. SUICIDA é aquele que se mata para acabar com a própria dor. ASSASSINO é aquele que MATA para causar dor nos outros.

Enfim, meus amigos foram SUICIDAS. Esses, que matam muitos antes de se matar, não são SUICIDAS. Esses são ASSASSINOS que se SUICIDARAM.


Abcs Bento Souto

sexta-feira, abril 08, 2011

VOCÊS VÃO TER QUE CHORAR QUANDO EU MORRER!





Quando soube dos detalhes do planejamento que fez o autor do massacre das crianças da escola de Realengo, no Rio de Janeiro, lembrei de um outro indíviduo.

"Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos". (Mateus 2:16)

Em nenhuma outra fonte, senão no Novo Testamento, há o registro desse massacre de, provavelmente, umas 20 crianças, da pequena população que habitava aquela região. Porém, devido ao histórico de bárbaries cometidas por Herodes, o Grande (como ele ficou conhecido), ninguém duvida de que ele tenha mesmo ordenado tal massacre. Na História há registros de que Herodes matou ou mandou matar todos aqueles que se opuseram a ele, e até esposas e filhos que poderiam usurpar o seu trono.

No entanto, a ligação que eu fiz entre Herodes e o jovem que assassinou as crianças na escola do Rio de Janeiro se deu por causa do último desejo de Herodes. Segundo nos conta Flávio Josefo, historiador Judeu que viveu no século I, ao sentir que ia morrer devido a uma grave enfermidade, Herodes fez um último pedido a Salomé, sua irmã, e a Alexas, marido dela.

Herodes sabia que os Judeus o odiavam e que se alegrariam com a morte dele. Ele não queria que houvesse alegria quando morresse mas, sim, pranto. Para que o povo chorasse a morte dele, Herodes mandou colocar todos os líderes Judeus, queridos e amados pelo povo, no Hipódromo de Jericó. O pedido que Herodes fez a Salomé e Alexas foi que, quando ele desse o último suspiro, sem contar que ele havia morrido, eles ordenassem a morte de todos os líderes queridos pelo povo. Ou seja, na mente de Herodes, a morte dele seria a mais lamentada dentre todos os reis. Graças a Deus que Salomé e Alexas não fizeram conforme o planejado por Herodes.

Herodes e o jovem assassino das crianças na escola do Rio de Janeiro tinham o mesmo propósito: queriam que as pessoas chorassem quando eles morressem. Infelizmente, o último conseguiu o seu intento.


Abcs Bento Souto

quinta-feira, abril 07, 2011

NÃO SEI PORQUE ME ABANDONARAM AQUI

-- Você é feliz? -- perguntei, sem saber que essa pergunta inundaria o coração de Luzia de dores.

-- Não, sou não -- respondeu ela, começando a chorar.

-- Mas, por que não? Aqui tem quem cuide de você; te dão comida; você tem uma cama; há muitos com quem você pode conversar, etc -- tentei argumentar.

-- Não sei porque me abandonaram aqui. Eu não fiz nada de errado. Trabalhei a vida toda na casa de Dr. Fulano. Cuidei da casa. Cuidei dos filhos dele. Cuidei dos netos. Agora, que estou velha e não sirvo mais pra nada, eles me abandonaram aqui e foram embora. Isso não é justo! -- Luzia pronunciava as palavras entrecortadas por gemidos e soluços.

Eu ainda não sei se a história de Luzia é real ou se é fruto de uma mente que já não consegue distinguir a realidade da imaginação. Muitos daqueles que vivem naquele asilo com Luzia já não sabem mais o que é realidade. As memórias deles são de mais de 50 anos atrás. Possivelmente, o Alzheimer danificou suas mentes.

No dia seguinte, Luzia me pergunta quase tudo que me perguntou no dia anterior. Onde mora? Com quem mora? Quantos filhos? Como é o seu nome? Etc. Respondo tudo como se fosse a primeira vez. Enquanto olho para ela, não deixo de pensar que ninguém sabe o que se passa na mente de Luzia.

Conversando com Luzia, sinto que estou diante de "solo sagrado" onde o "é assim para a glória de Deus" é a única explicação que consola a minha alma.

Muitos dizem estar prontos a "morrer por Cristo". Uns poucos dizem que estão prontos a "viver para Cristo". Porém, raros são os que dizem: "Senhor, sou teu, faça de mim o que te apraz".


Bjs Bento Souto

AVELOZ (Euphorbia tirucalli)




Hoje conheci Aurélio, 51, cego desde os 27 anos de idade.

-- Como foi que você ficou cego, Aurélio?

-- Foi "Aveloz" -- disse ele.

Lembrei de que eu mesmo recolhi folhas secas (que mais parecem talos) de "Aveloz" para acender o fogo da casa do meu avô.

-- "Aveloz" cega, fique longe dele -- sempre me dizia meu avô.

Porém, meu avô nunca pode me mostrar alguém que tinha ficado cego por causa de "Aveloz". Aurélio estava diante de mim. Agora, aquela advertência fazia outro sentido. Eu pensei que poderia estar cego também.

-- Do que você mais tem saudade do tempo em que enxergava? -- perguntei, de olhos fechados, tentando entender um pouco mais o mundo em que Aurélio vive.

-- De quando eu trabalhava; de quando eu podia ir sozinho para onde quisesse. -- respondeu Aurélio; demonstrando que não sentia falta da visão, mas do que ela proporcionava. Agora, confinado em um asilo para idosos, Aurélio só sairá para ir ao Hospital fazer exames, ou para o cemitério, quando morrer.

Eu havia me aproximado de Aurélio movido pelo desejo de presenteá-lo com um Novo Testamento escrito em Braille. Achei que seria um presente que ele poderia ler até quando apagassem a luz do quarto em que ele dorme com outros, que também aguardam a inevitável viagem. Aurélio é analfabeto e eu não tenho nenhuma idéia de como alfabetizá-lo. Na verdade, eu nem sei se ele quer ser alfabetizado.

Bom, eu não sei se conseguirei fazer algum bem ao Aurélio, apesar de que ele disse que gostou de me conhecer e perguntou se eu voltaria no dia seguinte. Achei que isso foi um bom sinal. No entanto, uma coisa eu sei: está me fazendo um bem imenso conviver com pessoas como Aurélio.

Antes de continuar devo dizer algumas coisas. 1. "Aurélio" é o nome fictício de uma pessoa real. 2. Nada mais é fictício. 3. Pretendo contar outras histórias nos próximos posts.


Bjs Bento Souto