quarta-feira, agosto 03, 2011

OS CRISTÃOS E A GUERRA


O texto a seguir foi escrito em 19/03/2003, mas ainda me parece bastante atual.

 

Talvez quando você leia isto já terá tido início a guerra EUA x Iraque. A Diplomacia não conseguiu evitar o confronto. Agora é a vez das armas.

O que mais me chamou atenção nesse processo de preparação para a Guerra foi a mistura do debate político com o religioso. Nunca vi tantos religiosos se posicionando contra e a favor da guerra. O Papa é contra a guerra. Os líderes da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos apóiam Bush no seu intento de levar os EUA à guerra. Achei interessante o fato de que até o velho conceito agostiniano-aquinista de "guerra justa" - um tipo de guerra em que o cristão deve se envolver - voltou a ser discutido.

Muitos religiosos, sem nenhum rodeio, defendem que é justo apear Saddam Hussein do poder. Afinal, dizem eles, Saddam é um ditador sanguinário e oprime seu próprio povo. Outros religiosos, mais comedidos, afirmam que apóiam Bush porque é dever dos cristãos obedecer aos seus governantes. Quando perguntados se as provas apresentadas contra Saddam eram convincentes e suficientes, alguns líderes apenas diziam "confiar nas autoridades".

Minha curiosidade me leva a perguntar se esses cristãos defenderiam a mesma coisa se fossem eles cidadãos iraquianos. Será que eles diriam que iriam obedecer seus governantes - Saddam, nesse caso? Será que eles diriam que iriam "confiar nas autoridades?" Lembremos que Saddam disse reiteradas vezes não possuir "armas de destruição em massa" (ainda que ninguém acredite!). Receio que esses líderes que defendem e apóiam Bush, não dizem que os iraquianos devem fazer o mesmo em relação a Saddam. Pelo contrário, eles estão até louvando a atitude sugerida por Bush aos soldados iraquianos, ou seja, não oferecer resistência. Que diriam eles se os soldados americanos se recusassem a atacar o inimigo?

Um amigo me chamou a atenção para aqueles que dizem que os EUA teriam que ter o apoio da ONU para ir a guerra contra o Iraque. O que mudaria na guerra o aval da ONU? Seria a condenação da Humanidade, e não de um pequeno grupo de países, a Saddam Hussein? Que diferença isso faria para os civis inocentes iraquianos?

Ora, se o problema é com a ditadura iraquiana, por que não dar o mesmo tratamento ao ditador sul-coreano? Se é por falta de democracia, alguém pode me mostrar onde é que ela existe na Arábia Saudita? Se o problema é com ligações com o terrorismo, por que não se removeu Kadafi da Líbia?

Infelizmente, do alto da minha inexperiência, não posso deixar de considerar as razões apresentadas em Tiago 4 como as motivadoras para essa e para qualquer outra guerra. Ou seja, em minha opinião, a guerra é por causa do petróleo e pelo desejo de exterminar um inimigo que o pai de Bush não conseguiu.

Saddam Hussein não é nenhum santo e eu não conheci ninguém que o defendesse. Ou, melhor dizendo, França, China e Rússia o defendem. E talvez o façam pelas mesmas razões que os EUA querem atacá-lo, petróleo.

Acho que foi por causa de posições religiosas como essas dos cristãos que defendem a guerra, que Gandhi disse admirar Cristo mas não ter encontrado cristãos. Ouso dizer que se ele fosse chamado a se manifestar como favorável ou contrário a essa guerra, talvez ele se colocasse em jejum até que o conflito acabasse. Se eu tivesse visto algum líder convocando os cristãos (talvez os muçulmanos também!) de todo o mundo a jejuar e orar para acabar com esse conflito, aí eu teria visto um "pacificador bem-aventurado" (Mat. 5:9). Lembro que esse jejum pode até ser de consumo. Ou seja, parar de consumir.

A linguagem do dinheiro, sem dúvida, parece ser uma linguagem que os poderosos do mundo entendem. Martin Luther King, inspirado no exemplo de Gandhi, fez com que os americanos, donos dos ônibus, entendessem, ao incentivar o boicote aos ônibus que segregavam os negros. Será que não entenderiam os barões do petróleo e os fabricantes de armas se nós, cristãos, parássemos de consumir em protesto contra a guerra?

Detalhe, segundo Jesus, os pacificadores serão chamados "filhos de Deus". Entretanto, existem outros, cujos "pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue" (Prov. 1:16). Como seremos chamados?

Bento Souto

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