segunda-feira, junho 08, 2009

O BANQUEIRO DOS POBRES – COMO TUDO COMEÇOU...

Tratava-se de encontrar um meio de ajudar essas 42 pessoas trabalhadoras e saudáveis. Eu não cessava de revolver o problema na mente, como um cão com seu osso. Se lhes emprestasse 27 dólares, elas poderiam vender seus produtos a quem quer que fosse e assim ver seu trabalho adequadamente remunerado, sem ter de apelar para os agiotas.

Estava resolvido: eu lhes emprestaria esses 27 dólares, e elas me reembolsariam quando estivessem em condições de fazê-lo.

Sufia precisava de crédito porque não tinha nenhuma reserva que lhe permitisse precaver-se contra os imponderáveis da vida, cumprir as obrigações familiares, prosseguir em sua atividade de fabricante de tamboretes, a fim de sobreviver em período de catástrofe.

Infelizmente não havia nenhuma instituição financeira capaz de satisfazer as necessidades dos pobres em matéria de crédito. Esse mercado do crédito, na ausência de instituições oficiais, fora açambarcado pelos agiotas locais, que sempre levavam seus "clientes" a se embrenhar mais fundo na estrada da pobreza. Uma estrada de mão única e muito congestionada.

Essas pessoas não eram pobres por estupidez ou por preguiça. Elas trabalhavam o dia inteiro, realizando tarefas físicas muito complexas. Eram pobres porque as estruturas financeiras de nosso país não tinham a disposição de ajudá-las a melhorar sua sorte. Era um problema estrutural, e não um problema individual.

Entreguei a Maimuna os 27 dólares, dizendo-lhe:

- Tome. Empreste esse dinheiro às 42 pessoas da nossa lista.

Todas elas poderão pagar os intermediários e vender seus produtos onde lhes propuserem um bom preço.

- Quando elas deverão pagar ao senhor?

- Quando puderem. Quando for vantajoso para elas vender seus produtos. Elas não vão me pagar juros. Não sou agiota.

Maimuna foi embora, sem dúvida um pouco perplexa diante da reviravolta sofrida pelos acontecimentos.


 

Normalmente, alguns segundos depois que ponho a cabeça no travesseiro já estou dormindo. Mas naquela noite eu não conseguia dormir; tinha vergonha de pertencer a uma sociedade incapaz de dar 27 dólares a 42 pessoas para ajudá-Ias a sobreviver por si mesmas.

Na semana seguinte subitamente me dei conta da insuficiência do que eu havia feito. Era uma solução pessoal, que obedecia a uma lógica puramente emocional. Eu me contentava com o empréstimo de 27 dólares, ao passo que era preciso encontrar uma solução institucional. Se outras pessoas tinham necessidade de capital, ir à procura do chefe do departamento de economia da universidade certamente não seria a solução. Uma pessoa pobre não pode subir uma colina para ir falar com um chefe de departamento. Além disso, os serviços de segurança do campus não a deixariam entrar, pensando tratar-se de um ladrão.

Era preciso fazer alguma coisa. Mas o quê?

Então resolvi entrar em contato com o gerente do banco local para lhe pedir que emprestasse dinheiro aos pobres. Tudo o que eu tinha de fazer era conseguir que uma instituição concedesse empréstimos a essas pessoas deserdadas. Aparentemente, uma coisa muito simples.


 

Foi então que tudo começou. Eu não tinha absolutamente intenção de me converter em credor; queria apenas resolver um problema imediato. Até hoje considero que meu trabalho e o de meus colegas do Grameen têm um único objetivo: pôr fim à pobreza, esse flagelo que humilha e denigre tudo o que um ser humano representa.

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