segunda-feira, novembro 17, 2008

GRAÇAS A DEUS, YUNUS NÃO É CRISTÃO TRADICIONAL!

"Porque os pobres, sempre os tendes convosco", disse Jesus.

Será que não devíamos dar graças a Deus por Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006, não conhecer ou não acreditar na interpretação tradicional dessas palavras de Jesus? Através dos séculos, quase todos os intérpretes da Bíblia dizem não haver solução para o problema da Pobreza. Mas, graças a Deus, Yunus não é adepto do Cristianismo Tradicional e muito menos dos conceitos das Escolas de Economia e Finanças vigentes.

Apesar de Yunus ser muçulmano, os líderes daquela religião não gostaram da idéia dele de emprestar dinheiro para os mais pobres entre os mais pobres de Bangladesh: as mulheres. Ele foi acusado de querer destruir a crença deles. Os maridos das mulheres também viram em Yunus um inimigo que desafiava as tradições. As próprias mulheres também ficaram receosas com a oportunidade.

Os banqueiros de Bangladesh -país asiático paupérrimo de onde Yunus é originário - também não aprovaram as idéias de Yunus. Eles disseram que não poderiam emprestar dinheiro para pessoas analfabetas, em sua maioria, e que não podiam apresentar garantias de que pagariam os empréstimos. Quando ficou claro que nenhum banco existente iria emprestar dinheiro para aquele tipo de cliente, Yunus criou o Grameen Bank (Banco do Vilarejo) e fez questão de que os próprios tomadores dos empréstimos fossem os donos do banco. Ou, melhor dizendo, Yunus fez questão de que as mulheres (atualmente, 97,0% dos tomadores de empréstimo são mulheres) fossem as donas do banco.

Semana passada, em um encontro promovido pela área de Micro Crédito do Banco Real, em São Paulo, ouvi o próprio Yunus contar a história que eu já havia lido no livro que ele escreveu, O Banqueiro dos Pobres - que eu recomendo que você leia. Segundo Yunus, cerca de 7,5 milhões de pessoas (97,0% mulheres, lembre-se sempre disso!) já foram beneficiadas pelos empréstimos do Grameen Bank. Mais de 650.000 delas conseguiram comprar uma casa para morar. Cerca de 107.000 moradores de rua são tomadores de empréstimos do Grameen Bank e mais de 10.000 deles já deixaram a rua e passaram a morar debaixo de um teto, graças aos pequenos empréstimos (cerca de 20 reais) e a ação direta do Grameen Bank na erradicação da pobreza em Bangladesh.

O mais incrível é que tudo isso tenha começado durante uma fome mortífera que assolou Bangladesh nos anos 70. Yunus, então professor de Economia da Universidade de Chittagong, percebeu que as teorias econômicas que ele havia aprendido durante o seu Ph.D em Economia na Universidade Vanderbilt, nos EUA, não eram adequadas para ajudar os miseráveis que morriam de fome em Bangladesh.

"Nunca pensei ou planejei nada disso, eu apenas reagi àquela injustiça", disse ele. Após levar os seus alunos para ver o problema da miséria dentro do vilarejo, Yunus tirou do próprio bolso o montante necessário para ajudar as primeiras 42 famílias: 27 dólares! Isso mesmo, 27 dólares."Foi um ato de puro desespero", admitiu Yunus.

Um longo caminho foi percorrido desde o empréstimo daqueles 27 dólares para 42 pessoas, em 1976, até os mais de 7,3 bilhões de dólares emprestados, somente pelo Grameen Bank, para 7,5 milhões de pessoas, em 2008. Cerca de 100 milhões de pessoas, em mais de 40 países, também já foram beneficiadas pelo conceito do Micro Crédito, nascido a partir daquele "ato de puro desespero perante tamanha injustiça".

Sobre a Crise Financeira Mundial, o jornal alemão Der Spiegel perguntou:
"A crise financeira atual começou como uma crise de crédito - mutuários nos Estados Unidos não puderam continuar pagando seus financiamentos. No Grameen Bank, que fornece micro empréstimos, a taxa de pagamento dos empréstimos é perto de 100%. Você pensa que o seu banco pode ser um modelo para todo o mundo financeiro?"

Yunus respondeu:
"A diferença fundamental é que o nosso negócio é muito conectado a economia real. Quando nós fornecemos um empréstimo de US$200, aquele dinheiro irá comprar uma vaca em algum lugar. Quando nós emprestamos $100, alguém irá comprar algumas galinhas. Em outras palavras, o dinheiro vai para algo com valor concreto. Finanças e a Economia Real tem que estar conectadas. Nos EUA, o sistema financeiro tem se separado completamente da economia real. Castelos foram construídos nas estrelas e, de repente, as pessoas perceberam que esses castelos não existem. Esse foi o ponto em que o sistema finaceiro colapsou".

Sim, você leu corretamente. O Grameen Bank recebe quase 100% de todo o dinheiro que empresta - 98% para ser preciso. Uma taxa de inadimplência invejada por qualquer banco tradicional. Yunus não faz e nem prega a caridade. Pelo contrário, ele diz que um dólar dado como caridade beneficia somente uma vez. Já um dólar emprestado e pago pode beneficiar muitas vezes. A diferença fundamental entre o Grameen Bank e as demais instituições financeiras é que o Grameen Bank não tem como objetivo o Lucro, mas ajudar as pessoas a sair da miséria.

A cada ano os funcionários do Grameen Bank checam se a situação sócio-econômica dos clientes está melhorando. Eles avaliam os níveis de pobreza dos tomadores de empréstimo usando indicadores como os abaixo:

1. A família vive numa casa com um teto e cada membro dorme numa cama e não no chão.
2. A família tem acesso a água potável, fervida ou purificada.
3. As crianças acima de seis anos estão na escola ou terminaram o ensino fundamental.
4. A família tem sanitário ou latrina em casa.
5. A família tem fonte de renda adicional, como hortaliças ou árvores frutíferas.
6. A família não experimenta dificuldade em ter três refeições por dia (nenhum membro da família passa fome).

Segundo dados do próprio Grameen Bank, mais de 60% dos tomadores de empréstimos, com a ajuda e orientação dos funcionários do banco, já deixaram de ser miseráveis e passaram a oferecer um futuro melhor para eles e para os filhos. Evidentemente que os métodos do Professor Yunus são contrários a todo esse Assistencialismo promovido pelos governos de vários países do mundo. Todavia, falando como quem conheceu a miséria de dentro, pois a vida diária de meu avô materno, no interior da Paraíba, não era muito diferente da daqueles miseráveis de Bangladesh, posso dizer que meu avô concordava com Yunus. Sim, foi da boca do meu avô que eu ouvi um ditado há muito esquecido:
"Quem dá uma esmola a um pobre que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão".

Mas, voltando a minha pergunta inicial, será que não deveríamos dar graças a Deus por Yunus não ser adepto do Cristianismo Tradicional? Eu acho que sim. Mas será que Jesus estava errado sobre os Pobres e sobre a Pobreza? Não, eu acho que não. Acho que quem está errado é quem não conhece as Escrituras e nem a essência da mesma, pois, uma olhada mais profunda já mostra que o sentido das palavras de Jesus não era de que ninguém devia lutar contra a Pobreza. Veja o contexto todo do que Jesus falou:

"Porque sempre tendes os pobres convosco e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim nem sempre me tendes." (Evangelho de Marcos, 14:7)

Sempre há pobres ao nosso redor. Só que nem sempre as pessoas querem fazer bem a eles. Detalhe, isso não é nenhuma novidade inventada por Jesus. Isso já era um ensinamento antigo deixado por Moisés. Veja o que está escrito em Deuteronômio 15:11.

"Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra."

Uma leitura cuidadosa das Escrituras demonstrará que os que não eram considerados pobres nos dias de Moisés ou Jesus, hoje, seriam considerados miseráveis. Sim, pois eles eram analfabetos; moravam em tendas, dormiam no chão, não tinham sanitários ou latrinas; e também não tinham muitas das coisas que Yunus luta para que os habitantes de Bangladesh tenham. Ou seja, numa definição simples, Pobre é aquele que carece dos itens essenciais a existência, não importando a época ou o país.

Contudo, para que isso não se transforme em um livro ou tese basta fazer uma pergunta: é possível resumir toda a Escritura para quem quer que seja em qualquer época ou lugar? Sim, é possível, pois o próprio Jesus disse que "Amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo é o resumo de toda a Lei e o ensino de todos os Profetas". Ora, e como é que alguém pode fazer isso? Simples, olhando os critérios pelos quais Jesus disse que as pessoas serão julgadas. Vejam abaixo:

Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
"Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar."
- Então os bons perguntarão:
"Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo?"
- Aí o Rei responderá:
"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos e irmãs, foi a mim que fizeram."
- Depois ele dirá aos que estiverem à sua esquerda:
"Afastem-se de mim, vocês que estão debaixo da maldição de Deus! Vão para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos! Pois eu estava com fome, e vocês não me deram comida; estava com sede, e não me deram água. Era estrangeiro, e não me receberam na sua casa; estava sem roupa, e não me vestiram. Estava doente e na cadeia, e vocês não cuidaram de mim."
- Então eles perguntarão:
"Senhor, quando foi que vimos o senhor com fome, ou com sede, ou como estrangeiro, ou sem roupa, ou doente, ou na cadeia e não o ajudamos?"
- O Rei responderá:
"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Todas as vezes que vocês deixaram de ajudar uma destas pessoas mais humildes, foi a mim que deixaram de ajudar."

Assim, pela ótica atual, cristãos são aqueles que se reúnem em grandes catedrais; cantam belos hinos; levam seus filhos para serem batizados e casados; carregam bíblias embaixo do braço; defendem doutrinas ou vivem falando em nome de JESUS; etc. No entanto, pela ótica de Jesus, cristãos são aqueles que amam e socorrem os necessitados. Esses são os filhos abençoados e cidadãos do Reino de Deus.

Por conta disso tudo anteriormente exposto, acho que devemos dar graças a Deus por Yunus não ser Cristão Tradicional, nem Muçulmano ou Judeu Tradicional. Aliás, eu também dou graças a Deus por Yunus não ser um Economista, Financista, Professor, ou qualquer outra coisa “Tradicional”, mas ser um homem, conforme ele próprio afirma, movido por um único propósito: ajudar os mais necessitados entre os necessitados.

Finalmente, se você achou esse texto interessante e gostaria de repassar aos seus amigos, considere-se desde já autorizado a fazê-lo. Todavia, eu gostaria de lhe pedir tão somente que considerasse a possibilidade de ajudar o meu amigo Carlos no projeto UM REAL POR UM SONHO (www.umrealporumsonho.com.br), que tem por objetivo levar a filha dele, que nasceu com Paralisia Cerebral, a fazer um tratamento com Células Tronco na China. Visite o site dele. Conheça a história de Clara e doe. Eles precisam de todos nós.

Em Cristo, meu Senhor e Senhor de todos, mesmo dos que nem sabem.


Bento Souto
bsouto@terra.com.br

Se você sabe ler em Inglês ou Espanhol, e gostaria de saber mais, visite:
http://muhammadyunus.org/
http://www.grameen-info.org/

4 comentários:

Fausto Walker disse...

Bento amado,

Belíssimo texto!

Junto-me a você em gratidão a Deus por Yunus não olhar a realidade à sua volta através das lentes de coisa alguma "tradicional", sejam as religiões/doutrinas/dogmas, sejam os sistemas econômicos e suas fisiologias.

Ele disse que "não faz caridade" -- e é verdade, se levarmos em conta o conceito estereotipado de "caridade" --, mas o que ele faz, em amor o faz. Ainda que não esteja ciente disso.

E nada do que é feito em amor é feito "fora" de Deus, que é Amor.

Assim, se um dia eu encontrar o Yunus aqui na Terra, certamente o chamarei de irmão.

Beijo grande!

Fausto

Unknown disse...

Mandei-te um longo e-mail sobre o Yunus...
Deixo aqui só o final:

"Bendito seja você, que já é Bento, por ter visto a profundidade dessas coisas [aquelas que falei no e-mail, mas que giram em torno do amor com que Yunus faz as coisas];
Bendito seja o Yunus, que não é da ordem hebreia, mas é da ordem de Melquisedeque;
E abençoados sejam os que lerem o seu texto e sentirem o coração arder - como eu fui agora !!!"

Unknown disse...

Querido Didi,

Que reflexão oportuna essa que acabo de ler! Experimento um misto de alegria e vergonha. Alegria por saber que há pessoas que fazem a diferença no lugar onde estão e vergonha por saber que eu posso fazer muito mais do que aquilo que faço.

Bento, bentido és!

Genilson Souto

Luiz e Márcia Damascena disse...

Amigo Bento!

Quantas boas conversas em almoços na beira da BR-316, disputando o tom de voz com as carretas que passavam...

A vida seguiu, progrediu e melhorou, mas certas saudades existentes não são tão ruins, são sinais de passos alegres na caminhada da vida...

Belo, oportuno e reflexivo texto. Vou divulgá-lo a quantos puder. Vindo de você, nem checo a fonte...
Como você já "autorizou", fico a vontade. Volta e meia uso suas expressões, dos nossos bons tempos de convivência. Agora, que estou mais velho, não mais alto mas seguramente mais gordo, volto e meia uso "se Deus usou a burra de Balaão, porque não pode usar o burro do Luizão para dizer alguma coisa ?".

Felicidades para você e toda sua família.

Luiz e Márcia Damascena