quinta-feira, setembro 15, 2011

“LAMPIÃO” DE MINISSAIA

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Muitos foram os personagens que enriqueceram minha infância e adolescência na Paraíba. Um dos mais curiosos foi “Lampião”. Claro, não estou falando do “capitão” Virgulino Ferreira, o mais famoso entre todos os cangaceiros que viveram no Nordeste, que foi imortalizado em incontáveis histórias contadas em verso e prosa, em livros, peças teatrais, estátuas e museus, novelas “globais” e filmes, etc.

Não, não lhes falo daquele que ficou conhecido como o Rei do Cangaço. Até porque quando eu nasci há muito ele já havia morrido. Pelo contrário, quero lhes falar acerca de uma outra pessoa que também ficou conhecida como “Lampião”, nas décadas de 60 e 70, em Campina Grande-PB.

Judite, nome pelo qual a “Lampião” da nossa história fora batizada, era vizinha da minha família no “Buraco da Gia” – o bairro mais “barra pesada” que havia em Campina Grande, à época, e que hoje, vejam só que ironia, mudaram o nome para “Rosa Mística”.

Judite, a “Lampião” de nossa história, ganhava o pão de cada dia exercendo uma das mais antigas profissões existentes na face da Terra: prostituta profissional. Ou, como se diz na Paraíba, Judite era uma “rapariga”.

Judite ganhara o apelido de “Lampião” por diversos fatores físicos e comportamentais. Ela foi a mulher mais forte que eu já vi na vida. Os braços de Judite eram cheios de músculos bem torneados. As pernas dela tinham panturrilhas enormes e mais bem delineadas do que as de muitos atletas. Enfim, a pessoa que eu acho que mais se parece com Judite é Ben Johnson – aquele jamaicano/canadense, recordista olímpico dos 100 metros rasos, flagrado no exame anti-doping por ter tomado anabolizantes.

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Judite era apelidada de “Lampião”, principalmente, por causa do seu destemor em enfrentar os homens na porrada. Cliente que se metesse a besta com ela, isto é, fazer o “programa” e não querer pagar, apanhava muito. Também não foram poucas as vezes em que Judite enfrentou a Polícia. Apenas dois ou três policiais não eram suficientes para dominá-la.

A amizade de minha mãe com Judite se devia ao fato dela [Judite] gostar muito do meu irmão pequeno, João Batista, a quem Judite gostava de pegar no colo e ficar acariciando os cabelos loiros dele. Aliás, por falar em cabelos, os de Judite eram curtíssimos. Ela dizia que era para que, numa briga, ninguém pudesse agarrá-la pelos cabelos.

Lembro do dia em que minha mãe, em sua santa ingenuidade, perguntou pra Judite, por que ela sempre usava saias e vestidos curtíssimos.

– É para não atrapalhar se eu não puder vencer uma briga e tiver que fugir na carreira – respondeu a “Lampião de minissaia”, destruindo a minha certeza que o figurino se devia a profissão dela.

Após todos esses anos, duas coisas continuam me intrigando; quem se sentia atraído sexualmente por Judite e era doido o suficiente para fazer um “programa” com ela?

Bjs

Bento Souto

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