sexta-feira, novembro 02, 2007

DENÚNCIAS SÃO DE UM "CACHORRO MORTO?"

Queridos,


Reconheço que muitos acham que as denúncias feitas pelo meu amigo Caio Fábio, em um vídeo que foi gravado em janeiro desse ano (2007), e que está circulando na Internet apenas uma parte dele – a entrevista toda tem mais de duas horas de duração – é fruto de um espírito amargurado. Alguns acham até que o Caio disse o que disse sobre alguns líderes evangélicos porque está com inveja e que gostaria de ter o espaço que esses líderes desfrutam, atualmente.

Outras pessoas defendem que mesmo que as acusações que o Caio fez sejam verdadeiras, ele não deveria fazê-las, pois, isso denigre a imagem da igreja por quem Cristo morreu. O curioso é que essas mesmas pessoas não vêem nenhum problema em que se acusem padres de pedofilia, rabinos de roubar gravatas etc. Ou seja, só não se pode falar dos “podres” que acontecem nas igrejas ditas “evangélicas”.

Muitos outros dizem que o Caio já foi muito usado por Deus, no passado, mas que agora, depois de “caído” (uma expressão muito usada por eles), ele não deveria dizer mais nada, pois tudo que diz apenas demonstra que ele se tornou em “instrumento do diabo”; e que o melhor que o Caio poderia fazer, hoje, é ficar calado.

Por causa dessa má compreensão por parte do povo e, principalmente, por um dos acusados, Silas Malafaia, dizer que “não responde a cachorro morto, falidos espirituais, etc” é que eu resolvi vir a público fazer o que o Caio diz não ter a menor disposição de fazer. Ou seja, desejo mostrar a todos que o Caio dizia isso tudo que disse no vídeo de janeiro/07 há pelo menos dez anos atrás, portanto, quando ele era o presidente da VINDE, da Fábrica de Esperança e da AEVB (Associação Evangélica Brasileira) e, segundo essas mesmas pessoas, abençoava muitas pessoas.

Desse modo, tudo que você vai ler a seguir foi escrito pelo próprio Caio Fábio quando lançou o livro “Confissões do Pastor” (Editora Record – 5ª. Edição – 1997). Ou seja, muito antes da relação adúltera do Caio e do Dossiê Caimã ou de qualquer coisa que pudesse denegrir sua imagem.

Mais ainda, faço isso para que você possa ver as semelhanças entre o que aconteceu há mais de uma década e o que está acontecendo agora. O cenário dos acontecimentos descritos a seguir se deu durante a “Primeira Guerra” entre a TV Record e a TV Globo; e entre o Caio Fábio e o bispo Edir Macedo, primaz da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Daqui por diante, eu transcrevo partes do livro e você tire suas próprias conclusões.

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Com o anúncio na mídia de que a Rede Globo lançaria uma novela que seria uma caracterização de Edir Macedo e sua igreja, a Universal iniciou imediatamente uma ação no sentido de estabelecer um enfrentamento. O problema é que assim fazendo eles vestiram a carapuça. Quando espernearam, o Brasil inteiro disse “Serviu.” Ao perceber o erro de marketing que haviam cometido, mudaram brilhantemente a estratégia.

– Essa novela é uma agressão a toda a Igreja Evangélica. Temos que nos unir e lutar contra a Globo porque esse é o início da perseguição contra o povo de Deus – disseram eles no programa 25ª. Hora e em suas mídias, especialmente o rádio.

Eu já havia me posicionado contra a inclusão dos pastores evangélicos no estereótipo do tal pastor Mariel, de Decadência. Que há muitos Mariéis disfarçados de pastores, não há dúvida. Somente um ser muito estúpido ou radicalmente fanatizado poderia ter a coragem de negar esse fato. Entretanto, os Mariéis estão longe de ser a maioria. Ao contrário, aqueles que vivem com dignidade e honram o evangelho mediante uma vida limpa e sóbria são tantos, que seria ridículo pretender que a figura do pastor de Decadência pudesse caber como definição de um típico pastor evangélico.

A virada na ênfase de que Decadência fosse um ataque à liderança da Universal, mas, ao contrário, revelasse uma tentativa de desmoralização de todas as igrejas e todos os pastores evangélicos do Brasil por parte da Globo, foi brilhante e rápida. Assim agindo, a Universal fez com que a maioria dos pastores que fazem o gênero Mariel procurassem imediatamente abrigo à sombra dos bispos de Edir Macedo ou de sua Rede Record de televisão. E mais que isto: muitos outros pastores que não tinham nenhuma identificação com as práticas da Universal, foram para lá, atraídos pelo medo da falada “perseguição contra os pastores”.

A mania de perseguição que existe entre os evangélicos é o fenômeno mais forte a unir o grupo todo. Durante todos esses anos de circulação no meio cristão, verifico, aturdido, que mesmo a centralidade de Cisto e a referência máxima da Bíblia não tem tanta capacidade de unir os diferentes no nosso meio quanto uma “boa onda de perseguição”. Quando isso acontece, mesmo os hereges se unem, e aqueles que se acusam de práticas completamente inaceitáveis descobrem a necessidade de se protegerem para lutar contra adversários supostamente comuns.
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“Roupa suja se lava em casa” não está escrito na Bíblia, mas é, sem dúvida, o mais obedecido de todos os mandamentos evangélicos.
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Quando comecei a dizer que não me via incluído no personagem do Mariel, a Universal percebeu que aquilo enfraqueceria a campanha deles quanto a serem a cara pública dos evangélicos. Afinal, eles tinham sua própria mídia na mão e não havia a menor razão para que eles não falassem pelos demais evangélicos.

No dia em que a minissérie estreou, a Igreja Evangélica se dividiu profundamente no Brasil. Os Mariéis e aqueles que sofriam de fobia persecutória ficaram com os bispos do Macedo.
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No entanto, naquele momento as frentes de combate e as motivações para o enfrentamento eram muito diferentes. A Globo trazia o assunto ao palco da mídia por verificar o crescimento estrondoso da Universal e do império de comunicação das Organizações Macedo. Por seu turno, Macedo enfrentava a Globo por se julgar forte o suficiente para fazê-lo, sobretudo no papel de injustiçado, o que lhe renderia, sem dúvida, bons pontos de audiência.
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Já do lado de dentro da igreja, as razões para defesa ou o ataque encontravam motivações diferentes. Muitos dos que aderiram à Universal naquele momento o fizeram pelo medo da perseguição. Alguns outros líderes que a eles se aliaram o fizeram, entretanto, por outras formas de interesse ou obrigação. Os tais interesses iam desde uma participação societária numa das televisões da Universal, como era o caso do pastor Fanini; no canal 13, Rio, até o desejo de poder também manter a cota de 20% da conta de Macedo na compra de horário na CNT-Rio, no valor de aproximadamente duzentos mil reais mensais, à época, como diziam ser o caso do pastor Silas Malafaia.
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Meia hora de luzes de estúdio e o encantamento de lentes de câmeras de televisão têm mais poder de sedução no meio evangélico que mulher pelada ou que o próprio diabo.

O único que, a meu ver, estava lá não apenas por causa de interesses de natureza política ou comercial era o pastor Silas Malafaia. Segundo soube, o negócio publicitário no agenciamento da CNT era uma de suas motivações, mas não a única. Ele estava lá também porque é uma pessoa de temperamento colérico, e com seu temperamento colérico, dificilmente perderia a oportunidade de se apresentar ao país como grande defensor da fé. No caso dele, entretanto, tal defesa tem aspectos genuínos. Ele é fervoroso em suas convicções e lutaria até mesmo contra o Macedo se seus princípios o induzissem a isso. O problema é que, apesar de jovem, o pastor Silas possui uma mente sempre disposta à defesa corporativista e ao sentimento sindicalista e “dinossauriano” de proteção da categoria. Este livro, certamente, lhe provocará intenso desejo de partir para o ataque outra vez, e o argumento será corporativista: roupa suja se lava em casa.

A análise que aqui faço da presença de tais pessoas ao lado de Macedo naquele episódio não é especulação minha, pois conversei com várias delas antes de que suas posições fossem definidas.

O conflito começou entre a Rede Globo e a Rede Record, mas acabou se concentrando num enfrentamento pessoal entre Macedo, supostamente o defensor dos evangélicos perseguidos, e Caio Fábio, o amigo da mídia e sócio do Dr. Roberto Marinho, conforme a versão que eles divulgavam.

– Ele é consultor informal da Rede Globo. Não sou eu que ta falando, não. É ele mesmo. Ta aqui nesse jornalzinho da Vinde. Ó. Ó. Ta vendo – dizia Malafaia, agitadíssimo na telinha da Record, enquanto sacudia diante das câmeras o Vinde Informa.

– Amigos, eu conheço o homem. Ele é íntegro e sério. Mas tá aqui. O órgão de informação dele mesmo é que diz isso. Que pena! – falava Silas, repetidamente, fazendo alusão ao fato de que em 1994 e 1995 a Globo, bem como a maioria dos outros meios de comunicação, quase sempre me procurava antes de lançar ao grande público coisas sobre os evangélicos.
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Minhas motivações naquela batalha não tinham a ver com nenhuma das razões mencionadas até aqui. Não tinha e não tenho nada pessoal contra o bispo Macedo, não ganho nada de nenhum de seus inimigos, não sou candidato a nada e não me vejo na obrigação de defender os evangélicos apenas por uma questão de fidelidade a uma ética corporativista, mafiosa.
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Para mim, aqueles dias foram o inferno. Não fora para aquilo que eu me tornara cristão. Em meio a tudo, às vezes eu me lembrava dos tempos em Manaus, das vigílias de oração, das reuniões nas escolas e faculdades, onde dava pura e simplesmente o testemunho de minha fé e amor, e me perguntava: “O que me trouxe até aqui?” Também me vinha ao coração a convicção de que não estava fazendo nada que tivesse a ver com as coisas pelas quais vale a pena viver e morrer.
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Durante e depois da novela, as notícias sobre “a briga entre o bispo Macedo e o pastor Caio” passaram a ser diárias. Meu sossego acabou completamente.
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Aquilo não afetou apenas a mim, mas eles também. Nos cultos da Universal, o clima de guerra cresceu para níveis quase islâmico-xiitas. Era ódio para todo lado. Repórteres foram ameaçados, o Dr. Roberto Marinho teve sua morte “decretada” no programa 25ª. Hora para no máximo até o fim de 1996, e eu fui declarado como sendo “o Golias que seria derrubado” pelas pedras deles. E mais do que isso: disseram-me que eu tinha um Exu na boca e que a maldição divina estava sobre minha cabeça.
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A pressão vinha de todos os lados. Eram líderes ligados à AEVB que queriam uma tomada de posição. Eram outros que queriam que silenciássemos. E havia também os que exigiam um esclarecimento público e final sobre as razões de nós sermos tão contrários às práticas e posturas da IURD.
– Só se fizermos um manifesto e o divulgarmos em nome da AEVB, botando um ponto final nesse bate-boca – disse eu para várias pessoas.

A idéia do documento prevaleceu. Assim, nos reunimos da noite para o dia e elaboramos o texto. A idéia era afirmar o direito constitucional da Universal existir do modo que bem entendesse, dentro das fronteiras da legalidade, mas mostrar as imensas diferenças de natureza ética, doutrinária, prática e de conteúdos que nos separavam. Por isso, solicitaríamos que eles falassem em seu próprio nome e parassem com aquela estratégia de se esconderam atrás dos evangélicos sempre que aprontavam e não queriam ficar para pagar a conta sozinhos.
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Uma semana depois do Manifesto da AEVB, veio a carta aberta da Universal. Dizem os entendidos que a tal carta teria sido redigida pelo pastor Silas Malafaia e autenticada pelos bispos do Macedo. Não posso afirmar, mas foi o que correu pelo meio evangélico, ainda que isto não seja importante para o desfecho dos fatos.
[...]
– O que fez o pastor Fanini mudar tanto? Não foi ele quem disse que preferia a Umbanda à Igreja Universal? – indagou de mim um evangélico que é repórter de um grande jornal.
– Olha, você é repórter, então investigue para ver se descobre o que fez com que ele mudasse de um extremo para outro tão radicalmente – disse de modo vago, ainda que soubesse qual era a razão daquela mudança.
[...]
Mas nem tudo foi triste naqueles dias. Houve também coisas com um tom engraçado.
– Ó, pastor Marcos, diz pro reverendo Caio que tem um tal de Mala-qualquer-coisa falando muito mal dele na TV Record – disse um dos mais temidos prisioneiros de Bangu 1.
– Malafaia. Esse é o nome. É um pastor – disse Marcos Batista.
– Pois é. Diz pro reverendo que a gente tá ouvindo esse cara falar mal dele e que tem gente aqui perdendo a paciência. Se esse cara continuar a falar mal do nosso reverendo, a gente acaba mandando dar um esfrega nele. O que ele pensa? Que pode falar mal de gente que só faz o bem e ficar assim mesmo? Num fica assim não, pastor. A gente tá aqui, mas nossos amigos tão lá fora. Esse cara leva um aperto e não sabe nem por quê. Diz pro reverendo que a gente ta às ordens – disse o detento.
– Olha aqui. O reverendo Caio é um homem de Deus. Ele é cristão. E um cristão não paga o mal com o mal. Um cristão paga o mal com o bem. Então, se vocês puderem, orem pelo pastor Silas Malafaia e assim vocês vão cumprir a lei de Cristo. EU não vou dizer um negócio desses pro reverendo Caio de jeito nenhum. Ele iria ficar muito angustiado. E tem mais: ele está triste com o pastor Silas, mas gosta dele. Orem pelo pastor Silas. Só isso – explicou Marcos Batista numa de suas últimas visitas a Bangu 1.
– Desculpa o mau jeito, pastor. Mas esse é o nosso modo de ser amigo. Aqui com a gente, amizade é amizade, parceria é parceria, e ninguém trai. Se trair, dança – disse o bandido, muito mais consciente do valor de certos princípios que alguns de meus companheiros de ministério cristão.

No dia 12 de outubro, o bispo von Helder, da Igreja Universal, chutou a imagem de Nossa Senhora de Aparecida, vista pelos católicos como a Padroeira espiritual do Brasil. Foi um escândalo. Ele agrediu, provocou, chutou e esmurrou a imagem da santa, ao vivo, na televisão.
– Olha essa coisa feia, desgraçada, miserável. Isso aqui num tem poder nenhum – disse ele em meio a muitas outras coisas.
O país parou, e eu fui outra vez “guindado” para dentro do conflito com a Universal.
– Ta certo chutar a santa? – era a questão que repórteres do Brasil e do exterior me faziam o dia todo.
– Nós, evangélicos, vemos o culto aos ídolos ou santos como idolatria inaceitável, de acordo com a Bíblia. Mas entendemos que num país pluralista como o Brasil, ninguém tem o direito de fazer enfrentamentos físicos e públicos contra objetos de culto, sejam eles quais forem. Portanto, mesmo condenando a idolatria, temos também que condenar o modo pagão como o von Helder brigou com o ídolo – foi o que respondi inúmeras vezes.
(Confissões do Pastor [cap. 58, págs. 424 a 438]– Editora Record – 5ª. Edição – 1997). = = = = = = = = = = = = = = = =
Se você leu até aqui, já percebeu algumas coisas:

- Caio não está falando “só agora”. Pelo contrário, as acusações são antigas e públicas.
- Quem acusou, à época, era a maior autoridade no meio evangélico brasileiro.
- Ninguém pode acusar o Caio de acusar para querer se promover (ele já estava onde os outros queriam chegar!).
- Portanto, Caio Fábio não é santo, mas não pode jamais ser tachado, honestamente, de “Roberto Jefferson” dos evangélicos.

Por último, meu objetivo com esse texto é apenas trazer ao grande público, especialmente os jovens, um pouco da história que muitos desconhecem. Portanto, se você não sabia disso tudo e agora sabe, faça um favor, compartilhe isso com seus amigos.

Em Cristo, nossa Justiça.


Bento Souto

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Bento. Eu tenho a biografia do Reverendo Caio e como você sabe, eu sou admirador dele. Achei muito bom você ter nos lembrado das críticas que ele fazia (e ainda faz)dessa galera toda. Eu conheço alguns dos líderes aludidos pelo Caio e pelo sei ele foi preciso nas palavras.

Gostei do blog e vou visita-lo sempre. Um abraço.

Chico Ribeiro disse...

Valeu,Bento!

Por falta de tempo, eu ainda não consegui ler o livro "Confissões", mas entendo que foi muito oportuna a transcrição de alguns trechos deste livro, pois assim muita gente irá perceber que o que o Caio diz hoje não difere em nada do que ele disse há anos atrás.

Aaaah, Parabéns pelo blog!

Agora sei onde ler os escritos. rsrs

Te gosto muito, mano!

Que Deus continue te abençoando!

wagnerf disse...

CARISSIMO BENTO
AGRADEÇO POR TER COLOCADO ESSE BLOG NA COMUNIDADE.
DE FATO, NÃO É DE HJ QUE VEJO, CONHEÇO E SEI QUE CERTOS "LÍDERES" EVANGÉLICOS NÃO PRESTAM, NO SENTIDO AMPLO DA PALAVRA.

ESPERO QUE O CAIO FÁBIO POSSA TER NOVAMENTE "SEU LUGAR AO SOL" NO SENTIDO DE TER OPORTUNIDADES DE FALAR DO AMOR DE CRISTO, DE COMO A CONVERSÃO PODE MUDAR O CARÁTER DO HOMEM E TORNÁ-LO MELHOR, E QUE OS VÍDEOS QUE TENHO VISTO, APENAS O DELE "METENDO O PAU" NESSES CANALHAS, NÃO SEJAM O QUE PROSPERE NA NET.

ASSISTIA OS PROGRAMAS DA VINDE E POSSO AFIRMAR QUE ERAM EDIFICANTES.

UM ABÇO

WAGNER