Cristãos, Muçulmanos, Hindus, Budistas, Espíritas, Ateus e todos os demais grupos religiosos (ou não) que eu conheço querem "salvar o mundo". Em tempo de eleições, todos os partidos políticos também prometem salvar as cidades, os estados ou os países. Em vista disso tudo eu sempre me pergunto: quem será que está esculhambando o nosso mundo já que todos estão querendo salvá-lo? Sim, quem são os responsáveis por esse mundo ser do jeito que ele é? Mais importante ainda, quem será mesmo que pode mudar esse mundo?
Ouso dizer que você não só pode mudar o mundo como, na verdade, você e eu já o estamos mudando. Sim, o mundo é o que é e está como está por causa de nossas escolhas e ações. Não pense que somente grandes causas políticas ou religiosas mudam o mundo. Nada disso. O mundo muda como resultado de pequenas ações.
Essa semana, ouvindo uma rádio especializada em notícias sobre o trânsito na cidade de São Paulo, eu percebi o impacto que as escolhas de duas pessoas tiveram na vida de milhões de pessoas. Um motoqueiro e uma mulher discutiram por questões de trânsito. Ao final da discussão, o motoqueiro esmurrou o carro da mulher e foi embora. A mulher partiu, ziguezagueando entre as pistas, em perseguição ao motoqueiro. Ela perdeu o controle e bateu o veículo, obstruindo duas pistas de uma importante avenida. Como resultado das escolhas da mulher e do motoqueiro, quilômetros de congestionamento se formaram. Milhares de pessoas que chegaram atrasados aos seus compromissos.
Quem poderá dizer quantas discussões ocorreram por causa daquele atraso? Quantos funcionários chegaram atrasados aos seus trabalhos e tiveram que ouvir broncas dos seus chefes? Quantos casais brigaram por causa do atraso? Será que o homem que morreu a caminho do hospital não teria sobrevivido se a ambulância não tivesse ficada presa no congestionamento? O garoto (filho do homem que morreu na ambulância) e a mãe dele (agora viúva!) terão todo o seu futuro alterado por causa das escolhas do motoqueiro e da mulher.
Em suma, o motoqueiro e a mulher mudaram o mundo, mesmo que eles mesmos não saibam disso.
Agora, imagine se a mulher e/ou o motoqueiro tivessem perdoado um ao outro. Como teria sido aquele dia em São Paulo para milhares de pessoas, incluindo o garoto que perdeu o pai e a esposa que ficou viúva?
No dia seguinte a isso tudo levei meu carro para fazer um reparo em uma oficina. Depois que me disseram que o conserto havia sido feito, peguei o carro e fui para casa. Menos de 15 minutos depois, o defeito reapareceu e eu tive que retornar à oficina, no dia seguinte. Cheguei lá e, sem qualquer irritação, expliquei para o dono da oficina o ocorrido. Ele providenciou para que o reparo fosse refeito e ao final me pediu desculpas. Eu falei que entendia que ninguém é perfeito -- algo que muita gente diz concordar, mas poucos parecem aceitar.
A coisa toda é muito simples. Já fui gerente de serviços de concessionárias de veículos e sei que qualquer empresa fica por demais satisfeita com qualquer número acima de 95% de serviços bem executados. O problema é que enquanto 95% dos clientes ficam satisfeitos, 5% não ficam. Naquele dia, eu fiz parte do grupo dos 5% em que os reparos tiveram que ser refeitos. Daí, a pergunta que eu fiz para o dono da oficina e para mim mesmo foi a seguinte: se eu sei que ninguém consegue 100%, por que eu não posso fazer parte dos 5%? Seria eu melhor que os demais?
Senti naquele instante que, com a minha escolha, ganhei a amizade do dono da oficina e dos rapazes que fizeram (e refizeram!) o reparo no meu carro. Eu poderia ter xingado todos; dizer que o serviço deles era uma "m...". Enfim, poderia ter transformado, para pior, o mundo daquelas pessoas e o meu. No entanto, ao reconhecer nos outros a mesma falibilidade a que todos estamos sujeito, e agir com misericórdia e amor para com eles, mudei, para melhor, o "mundo" que estava ao meu alcance.
A maior lição disso tudo, para mim, é essa: para o mundo ser um lugar melhor quem precisa mudar sou eu!
Eu tenho o poder de mudar o mundo!
Você também tem esse poder!
E aí, vamos mudar o mundo para melhor através das nossas escolhas e ações? Ou vamos continuar achando que religiões e ideologias tem o poder de mudar o mundo?
Nenhum Império possui armamento para resistir a força conquistadora do Amor e da Misericórida. George Bush, com todo o poderio militar à disposição, não conseguiu conquistar o Iraque e o Afeganistão. Gandhi, através da Ação Direta-Não Violenta, sem disparar um tiro sequer, derrotou o Império Britânico.
Eu, todavia, não desejo vencer nenhum inimigo que não seja eu mesmo. Se vencer a mim mesmo, com certeza, meu mundo será melhor.
Quem pode mudar o mundo?
Eu e você!
Portanto, mãos à obra e que Deus nos ajude!
Bento Souto