E o Livre-Arbítrio?
Ah, quanto mais eu leio, mas eu acho que esse é um termo vazio. Nem sabemos o que estamos dizendo ao afirmar que o Homem possui Livre-Arbítrio.
Qual desses homens possui Livre-Arbítrio?
1) O Homem (Adão e Eva) antes de pecar.
2) O Homem caído e sem Cristo.
3) O Homem salvo por Jesus Cristo, mas ainda vivendo nesse mundo.
4) O Homem glorificado nos céus.
O Livre Arbítrio desses 4 Homens acima descritos são iguais?
Depois de ler The Bondage of the Will (Servum Arbitrium), escrito por Lutero (você encontra aí na Christian Book Distribuitors, www.christianbook.com - ISBN: 0800753429), em resposta ao que escreveu Erasmo de Roterdã (De Libero Arbitrium), O Livre-Arbítrio, eu não posso mais dizer que esses 4 Homens possuem o mesmo Livre-Arbítrio.
Todavia, somente para demonstrar que Livre-Arbítrio é um termo vazio, vamos olhar uma definição do que é Livre- Arbítrio.
Um amigo escreveu:
"Livre Arbítrio - liberdade de auto determinação e ação independente de causas externas"
Eu concordo com ela. Acho que a definição é precisa. No entanto, tenho minhas dúvidas de que vejamos o mesmo sentido nessa descrição. Note que a definição diz "liberdade de auto (self, certo?) determinação (escolha, concorda?) e ação (não vou nem entrar na questão de Paulo dizer que escolhe o Certo e faz o Errado, fica pra outra ocasião!) independente (aparte, isolado, correto?) de causas externas (na intimidade do ser, apenas com as coisas do ser, certo?).
Bem, vamos testar se alguma escolha pode ser feita nessas condições. Onde vamos tomar o café da manhã? Na Waffle House ou na IHOP (International House of Pancake)? De que você gosta mais Waffle ou Panqueca? Você deixa para que eu decida? Você gosta mais de panqueca, e eu de waffle, mas você decide ir comer waffle, pois o que importa é a minha companhia? Você gosta mais de estar comigo do que comer panqueca? Infelizmente, a "causa externa" está presente em todos esses processos de escolha. Portanto, o arbítrio não é livre de "causas externas".
Vamos ao cinema. Não, é melhor você ir sozinho para eu não atrapalhar sua escolha. Que filme você decide assistir entre os 12 que estão passando? Sua escolha foi por causa do ator ou atriz? Foi por causa do horário em que ele vai começar? Foi por causa da trama? Foi por que alguém disse que o filme era bom? Onde você vai sentar ao entrar na sala de exibições? Bem no centro, para poder ver melhor a tela? Bem ao fundo, ou na ponta...? Por que você escolhe o lugar onde senta? Não tem jeito, em todas essas escolhas há "causas externas".
Bem, vamos tentar fazer uma escolha sem "causas externas". Você escolheu um modelo de camisa para comprar? E agora, vai ser a azul ou a marrom? Nenhuma das duas, vai ser uma outra cor porque ela é a sua cor favorita? Sinto muito, lá vem "causas externas" no exercício do seu arbítrio... Ou seja, qualquer escolha acontece por causa de inclinações ou preferências, se "preferir" chamar assim.
Livre arbítrio, no processo de escolha de comida, por exemplo,é quando você vai sozinho para um restaurante, na Malásia, e o garçom te dá o menu, e você nem sabe ler o que tá escrito. Você vai escolher um prato sem saber se é líquido ou sólido, se é pastoso ou seco, se é vegetal ou animal, se é cru ou cozido ou se é caro ou barato. Isso é o exercício do livre-arbítrio no processo de escolha de um prato. Ou seja, nenhuma informação (causas externas, lembra?).É como dizer escolha A ou B (se bem que você pode escolher A porque seu nome começa com A...causa externa!). Escolha 1 ou 2! Esquerdo ou direito. Etc.
Nesse ponto, talvez você pense como eu e diga: "peraí, e se for o contrário? E se Livre-arbítrio for um processo de escolha onde se sabe tudo sobre a escolha?" Ou seja, e se Livre-arbítrio for um processo de escolha onde se goste de duas coisas de igual forma? Se não houver preferência (ou inclinação, como eu prefiro chamar) por uma, apenas? A definição acima estaria errada, mas alguém poderia ter a mesma inclinação para os dois lados e escolher um, não seria isso Livre-arbítrio? Afinal, daqui a pouco vamos ter que lidar com o que levou Adão a escolher pecar!
Infelizmente, isso também não funciona. Vamos imaginar que você goste, igualmente, do azul e do marrom. Que camisa você irá comprar? Você só pode levar uma. Qual será? Azul ou marrom? Não adianta, se o gosto for igual, você irá ficar olhando para as camisas pra sempre, sem poder fazer uma escolha. Pois, se escolher uma é porque gostava mais daquela cor do que a outra. Percebe que não há saída? A escolha parece que nunca se livra de "causas externas".
Então, em minha opinião, Livre-Arbítrio é um termo vazio.
Peraí, Bento. E a escolha de Adão? Não foi exercício de Livre- Arbítrio? A de Adão foi livre de "causas externas"? Não estava Eva defronte dele comendo o fruto da árvore que Deus havia dito que se comesse morreria? Isso não é uma boa "causa externa"? E a de Eva, não foi uma escolha livre de "causa externas"? Não havia um outro ser dizendo que se ela comesse o fruto, ela seria igual a Deus? Isso não é uma "causa externa"? Se é assim, então qual foi a "causa externa" que levou Lúcifer a pecar? De onde veio a "inclinação para o mal" no ser dele?
Nesse ponto, acaba a razão humana. Chegamos ao limite da razão. Não há mais terreno para a Razão. Daqui pra frente só se vai pela Fé. É pela Fé que cremos que "Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta". Qualquer dúvida quanto a isso, eu sugiro que você leia de nova a epístola de Paulo aos Romanos. Lá, ele começa a elaborar o problema da Queda que atingiu toda a raça humana. Depois, ele segue com a Redenção através de Jesus Cristo... até que lá pelo final do capítulo 8 ele já está falando daqueles a quem Deus elegeu. E ele segue mostrando até onde a razão pode ir... Deus escolheu Jacó e não Esaú, antes que tivessem nascido ou feito mal ou bem, afim de que o propósito da eleição permanecesse... e segue até que pergunta se não há injustiça em Deus escolher uns e outros não. Note qual é a resposta. Doxologia. Louvor. Não há o que dizer. A razão humana não consegue explicar isso.
Falar de Livre-Arbítrio num ambiente ocidental é muito gostoso. Meu amigo, George Guilherme, repórter sênior da Globo foi para uns países asiáticos fazer uma reportagem sobre um esporte chamado Sepaktracal (parece nome de remédio, não é?). Num belo dia de domingo, na Malásia, ele acordou e quis ir para uma igreja. Perguntou na recepção do hotel e ninguém sabia o que era igreja. Perguntou para várias pessoas até se dar conta de que talvez ele fosse o único cristão naquela cidade. Se lermos Atos 16, veremos o motivo de George não encontrar cristãos ali. Deus tinha outros planos. Nós não sabemos explicar, apenas cremos e louvamos.
Ou você pode explicar por que eu vivi uma vida saudável (até hoje, graças a Deus) e minha prima Bernadete tem a mente de criança de dois dias de nascida? Nunca disse uma palavra. Nunca disse onde é que estava doendo. Nunca abraçou alguém e disse "eu te amo". Nunca saiu do lugar sem que alguém a carregasse. Nunca comeu nada que alguém não houvesse posto na boca dela. Nunca deu um passo na vida. Você pode explicar por que ela é assim e o irmão e a irmã dela não são? São 45 anos de uma vida dessa maneira.
Acho que nem você e nem ninguém pode. Deus disse que é Ele quem faz pessoas como Bernadete ou com qualquer outra enfermidade de nascimento (Ex. 4:11). Eu não entendo, será que por isso eu devo deixar de louvá-lo? Ou eu admito que a Razão Humana possui limites? Essa discussão toda sobre Livre-Arbítrio, Eleição, Predestinação, etc., é tentativa de explicar o inexplicável. Há muito exagero e gente, como dizia Calvino, "que entra nos aposentos íntimos de Deus sem a reverência devida". Eu não quero ser um deles.
Sou apenas alguém que tem convicção de que não sou melhor do que ninguém. Sou amigo e discuto a vaga de "principal dos pecadores". Por isso, termino com as palavras daquele personagem de Ariano Suassuna: "eu não sei não, só sei que foi assim".
Abraço,
Bento Souto
25 de Julho de 2004.
Aqui estão minhas idéias, reflexões e tudo mais que eu achar legal de registrar. Espero que vocês gostem. Bjs Bento
quinta-feira, agosto 16, 2007
BOBBY, UM CÃO FORA DOS PADRÕES
Eu fui passar o Natal com meus pais e familiares lá em Campina Grande-PB. Em meio aos papos com meu pai, perguntei sobre um cão que da última vez que eu os visitei estava lá e que agora não estava mais.
Meu pai sempre gostou de criar cães. Só que ele sempre gostou de vira-latas. Ele sempre quis cães que fossem bons guardas. De dia, ele os mantinha presos. À noite, o lado de fora da casa era dos cães. Só soltava-os de dia quando todos saíam de casa.
He-man foi o cão que meu pai mais se apegou. Silencioso, ele era o típico cão que não latia, mas mordia. Pequeno e franzino, He-man era capaz de enfrentar qualquer cão e qualquer pessoa. Só latia depois que mordia, e mordeu a muitos. Os Correios suspenderam a entrega da correspondência porque três carteiros foram mordidos por He-man.
Um vizinho que quando estava bêbado passava pelo portão da casa provocando He-man foi mordido na primeira oportunidade que o cão escapou. Parecia vingança. He-man fugiu de casa e foi parar na casa do bêbado e o mordeu lá.
O ódio contra He-man cresceu tanto que deram "bola" pra ele. Para os que não sabem, "bola" é uma bola de carne moída com caco de vidro ralado dentro. O cão come a "bola" e os pedaços de vidro cortam o intestino dele. He-man morreu.
Meu pai tentou encontrar um substituto para He-man. Criou vários até chegar em Bobby - o cão que eu notei a ausência. Bobby era um cão vira-lata pequeno e forte. O corpo parecia o de um bulldog, cheio de músculos. Ele também não latia, pois meu pai detesta cães que latem. Bobby quase não obedecia a comando algum. Mas era um excelente cão de guarda. Ninguém entrava na casa de meu pai se Bobby estivesse solto. Pular o muro, com Bobby solto, pra fazer pequenos roubos - como fazem aqueles garotos que vivem na vizinhança - estava fora de questão. Bobby não era um He-man, mas desempenhava o papel que meu pai queria.
Daí, a minha pergunta:
- Pai, cadê o Bobby?
- Ele foi embora -, disse meu pai.
- Como assim "ele foi embora"? Ele fugiu? - perguntei eu.
Meu pai fez uma expressão de quem não estava gostando do assunto. A meia-voz, disse:
- Ele foi embora. Bobby era boiola. De vez em quando dava a louca nele. Ele fugia de casa e depois aparecia com mais dois ou três cães, como uma cadela no cio. Assim, ele foi embora.
Soube depois, por uma irmã, que meu pai não suportara a idéia de ter um bom cão de guarda que fosse homossexual. O "homo" aqui não é de Homem, mas do idioma Grego, "homo", que significa "do mesmo", assim como "homônimo".
A cultura do macho Paraibano falou mais alto e meu pai soltou Bobby na rua para não ter que ouvir as piadas dos amigos aposentados. A casa agora se modernizou. Cerca elétrica e alarme substituíram o Bobby.
Ouvi a história do Bobby e me pus a pensar. Quantas pessoas não agem com seres humanos igual ao meu pai agiu com o Bobby? Elas crêem que ninguém nasce homossexual. Assim, quando se deparam com o que contradiz suas crenças, tratam de tirar essa pessoa da vista o mais rápido possível. Bobby é um cão. Cães não estão sujeitos a dilemas se vão para o céu ou não. Cães não estão sujeitos a questões morais. Meu pai é quem está sujeito a essas coisas. Bobby, mesmo sendo um bom cão de guarda, não se encaixou nos padrões morais e culturais de meu pai. Assim, para meu pai, o que se havia de fazer era descartá-lo.
Eu sei que cães homossexuais são raros. Pessoas homossexuais que nasceram homossexuais também são raros. Mas ambos existem. Negá-los é ir contra a realidade. Nós podemos dizer que não sabemos o porquê disso. Podemos não entender, como eu não entendo. Só não acho que seja sábio descartá-los por isso.
Há muita gente que prefere não ter um bom filho, caso ele seja homossexual. Só que não existe uma forma de substituir esse bom filho por equipamentos elétricos e eletrônicos, como fez meu pai com o Bobby. Seres humanos são únicos e mais valiosos do que o mundo inteiro, disse Jesus.Na maioria das vezes, nós montamos um presépio das coisas. Aí, quando aparece alguém que não é Maria, nem José, nem o menino Jesus, nem animais ou pastores, a gente descarta quem apareceu porque aquilo não se encaixa no nosso presépio. Só que a vida não é um presépio estático. A vida é como ela é! Não transforme a sua vida em um presépio.
Medite no que eu disse aqui e, por favor, não permita que sua cultura faça-o descartar seres humanos. Que tal começar 2007 com uma nova postura sobre esse assunto? Ou você vai fazer como meu pai fez com Bobby, descartar aqueles que não se encaixam naquilo que você crê ser a realidade? Ou como os amigos dele que fazem piadas a respeito do que não entendem?
Pessoas não são peças de presépio!
Feliz 2007!
Um beijão!
Bento Souto
Meu pai sempre gostou de criar cães. Só que ele sempre gostou de vira-latas. Ele sempre quis cães que fossem bons guardas. De dia, ele os mantinha presos. À noite, o lado de fora da casa era dos cães. Só soltava-os de dia quando todos saíam de casa.
He-man foi o cão que meu pai mais se apegou. Silencioso, ele era o típico cão que não latia, mas mordia. Pequeno e franzino, He-man era capaz de enfrentar qualquer cão e qualquer pessoa. Só latia depois que mordia, e mordeu a muitos. Os Correios suspenderam a entrega da correspondência porque três carteiros foram mordidos por He-man.
Um vizinho que quando estava bêbado passava pelo portão da casa provocando He-man foi mordido na primeira oportunidade que o cão escapou. Parecia vingança. He-man fugiu de casa e foi parar na casa do bêbado e o mordeu lá.
O ódio contra He-man cresceu tanto que deram "bola" pra ele. Para os que não sabem, "bola" é uma bola de carne moída com caco de vidro ralado dentro. O cão come a "bola" e os pedaços de vidro cortam o intestino dele. He-man morreu.
Meu pai tentou encontrar um substituto para He-man. Criou vários até chegar em Bobby - o cão que eu notei a ausência. Bobby era um cão vira-lata pequeno e forte. O corpo parecia o de um bulldog, cheio de músculos. Ele também não latia, pois meu pai detesta cães que latem. Bobby quase não obedecia a comando algum. Mas era um excelente cão de guarda. Ninguém entrava na casa de meu pai se Bobby estivesse solto. Pular o muro, com Bobby solto, pra fazer pequenos roubos - como fazem aqueles garotos que vivem na vizinhança - estava fora de questão. Bobby não era um He-man, mas desempenhava o papel que meu pai queria.
Daí, a minha pergunta:
- Pai, cadê o Bobby?
- Ele foi embora -, disse meu pai.
- Como assim "ele foi embora"? Ele fugiu? - perguntei eu.
Meu pai fez uma expressão de quem não estava gostando do assunto. A meia-voz, disse:
- Ele foi embora. Bobby era boiola. De vez em quando dava a louca nele. Ele fugia de casa e depois aparecia com mais dois ou três cães, como uma cadela no cio. Assim, ele foi embora.
Soube depois, por uma irmã, que meu pai não suportara a idéia de ter um bom cão de guarda que fosse homossexual. O "homo" aqui não é de Homem, mas do idioma Grego, "homo", que significa "do mesmo", assim como "homônimo".
A cultura do macho Paraibano falou mais alto e meu pai soltou Bobby na rua para não ter que ouvir as piadas dos amigos aposentados. A casa agora se modernizou. Cerca elétrica e alarme substituíram o Bobby.
Ouvi a história do Bobby e me pus a pensar. Quantas pessoas não agem com seres humanos igual ao meu pai agiu com o Bobby? Elas crêem que ninguém nasce homossexual. Assim, quando se deparam com o que contradiz suas crenças, tratam de tirar essa pessoa da vista o mais rápido possível. Bobby é um cão. Cães não estão sujeitos a dilemas se vão para o céu ou não. Cães não estão sujeitos a questões morais. Meu pai é quem está sujeito a essas coisas. Bobby, mesmo sendo um bom cão de guarda, não se encaixou nos padrões morais e culturais de meu pai. Assim, para meu pai, o que se havia de fazer era descartá-lo.
Eu sei que cães homossexuais são raros. Pessoas homossexuais que nasceram homossexuais também são raros. Mas ambos existem. Negá-los é ir contra a realidade. Nós podemos dizer que não sabemos o porquê disso. Podemos não entender, como eu não entendo. Só não acho que seja sábio descartá-los por isso.
Há muita gente que prefere não ter um bom filho, caso ele seja homossexual. Só que não existe uma forma de substituir esse bom filho por equipamentos elétricos e eletrônicos, como fez meu pai com o Bobby. Seres humanos são únicos e mais valiosos do que o mundo inteiro, disse Jesus.Na maioria das vezes, nós montamos um presépio das coisas. Aí, quando aparece alguém que não é Maria, nem José, nem o menino Jesus, nem animais ou pastores, a gente descarta quem apareceu porque aquilo não se encaixa no nosso presépio. Só que a vida não é um presépio estático. A vida é como ela é! Não transforme a sua vida em um presépio.
Medite no que eu disse aqui e, por favor, não permita que sua cultura faça-o descartar seres humanos. Que tal começar 2007 com uma nova postura sobre esse assunto? Ou você vai fazer como meu pai fez com Bobby, descartar aqueles que não se encaixam naquilo que você crê ser a realidade? Ou como os amigos dele que fazem piadas a respeito do que não entendem?
Pessoas não são peças de presépio!
Feliz 2007!
Um beijão!
Bento Souto
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